Fotografia: Jornal de Angola
A criação do Prémio Nacional de Cultura e Artes pretende ser, julgamos, uma tentativa, séria e institucional, de inverter a tendência perdulária a que esteve votado o reconhecimento do mérito dos criadores e investigadores, nos domínios da literatura, artes plásticas, teatro, dança, investigação em ciências sociais e humanas, música, cinema e audiovisuais.
Vítimas dos caprichos implacáveis dos caminhos ínvios da história, os artistas e investigadores angolanos, converteram-se, durante longos e penosos anos, em peças descartáveis, fazendo-nos ressaltar, à memória, um verso do cantor e compositor brasileiro, Chico Buarque de Holanda, intitulado “Festa acabada músicos a pé”.
Pelo valor pecuniário do prémio, infere-se que o Estado angolano reconhece e pretende investir, de facto, na magnitude artística dos criadores e investigadores, exaltando-os a uma reflexão sistematizada do feito, rumo ao que ainda há por se fazer.
É líquido, no entanto, maximizar a dimensão simbólica do Prémio Nacional de Cultura e Artes, que vem conferindo, aos premiados, um estatuto de prestígio e mérito que, antes da institucionalização do galardão, era franqueado pelo vazio dos exercícios verbais de uma crítica de feição impressionista e, obviamente, pela sazonalidade dos efémeros aplausos.
Sabe-se que os prémios, a crítica e os sistemas de ensino, constituem instâncias de validação da componente institucional da generalidade da criação artística e da pesquisa científica. Neste atalho de análise, os prémios não só prestigiam os seus vencedores, como também as instituições que os outorgam, no caso, o Ministério da Cultura.
É pela selectividade que as obras e seus autores se afirmam, porque entendemos que abjurar o mérito dos criadores e investigadores é, no mínimo, asfixiar o progresso e negar a natural reedição do bom exemplo.
O Prémio Nacional de Cultura e Artes corre o risco de se transformar numa versão intelectualizada do “Top dos mais queridos”, se a história da criação musical, da literatura angolana e da investigação antropológica, de tipo endógeno, incluindo os autores e investigadores com obra feita desde o tempo da colonização portuguesa, não for revalorizada.
Evitar a banalização do Prémio Nacional de Cultura e Artes, significa, no nosso modesto entendimento, estabelecer um equilíbrio, inteligente, entre a avaliação retrospectiva e prospectiva da produção artística e literária angolana.
O Prémio Nacional de Cultura e Artes deve enaltecer os grupos e figuras emblemáticas do Carnaval e da rebita, valorizar os autores incontornáveis da história da música e da literatura angolana tais como: Agostinho Neto, António Jacinto, António Cardoso, Raul David, José Oliveira de Fontes Pereira, Eleutério Sanches, Waldemar Bastos, Bonga e os agrupamentos históricos da Música Popular Angolana como os Kiezos, Jovens do Prenda, Merengues, África Show, Águias Reais, incluindo a premiação simbólica da música de intervenção do agrupamento Nzaji, pela sua transcendência cultural e, fundamentalmente, política.
Está claro que tal desiderato só vai ser possível com a reformulação do regulamento, a selecção de um júri especializado e responsável, porque entendemos que os criadores podem não possuir o domínio de determinados pressupostos teóricos e práticos, indispensáveis ao exercício, pleno, do julgamento crítico da arte.
A categoria da literatura e da investigação em ciências sociais e humanas, por exemplo, exigem, do júri, uma leitura profunda, especializada, atempada e integral dos textos, com recurso às modernas teorias de análise e interpretação literária, sobretudo as que privilegiam os métodos inter-disciplinares, incluindo o domínio das teses textualistas, de inspiração pós-estruturalista, e dos contextos culturais dos quais emanam as obras a serem avaliadas.
O Prémio Nacional de Cultura e Artes deve valorizar, de igual modo, a inteligência da contemporaneidade artística angolana, quando pontificar a pertinência, a qualidade, a inovação e a recepção, favorável, da crítica internacional especializada, sobretudo nas categorias das artes plásticas, teatro, dança, cinema e audiovisuais.
Vítimas dos caprichos implacáveis dos caminhos ínvios da história, os artistas e investigadores angolanos, converteram-se, durante longos e penosos anos, em peças descartáveis, fazendo-nos ressaltar, à memória, um verso do cantor e compositor brasileiro, Chico Buarque de Holanda, intitulado “Festa acabada músicos a pé”.
Pelo valor pecuniário do prémio, infere-se que o Estado angolano reconhece e pretende investir, de facto, na magnitude artística dos criadores e investigadores, exaltando-os a uma reflexão sistematizada do feito, rumo ao que ainda há por se fazer.
É líquido, no entanto, maximizar a dimensão simbólica do Prémio Nacional de Cultura e Artes, que vem conferindo, aos premiados, um estatuto de prestígio e mérito que, antes da institucionalização do galardão, era franqueado pelo vazio dos exercícios verbais de uma crítica de feição impressionista e, obviamente, pela sazonalidade dos efémeros aplausos.
Sabe-se que os prémios, a crítica e os sistemas de ensino, constituem instâncias de validação da componente institucional da generalidade da criação artística e da pesquisa científica. Neste atalho de análise, os prémios não só prestigiam os seus vencedores, como também as instituições que os outorgam, no caso, o Ministério da Cultura.
É pela selectividade que as obras e seus autores se afirmam, porque entendemos que abjurar o mérito dos criadores e investigadores é, no mínimo, asfixiar o progresso e negar a natural reedição do bom exemplo.
O Prémio Nacional de Cultura e Artes corre o risco de se transformar numa versão intelectualizada do “Top dos mais queridos”, se a história da criação musical, da literatura angolana e da investigação antropológica, de tipo endógeno, incluindo os autores e investigadores com obra feita desde o tempo da colonização portuguesa, não for revalorizada.
Evitar a banalização do Prémio Nacional de Cultura e Artes, significa, no nosso modesto entendimento, estabelecer um equilíbrio, inteligente, entre a avaliação retrospectiva e prospectiva da produção artística e literária angolana.
O Prémio Nacional de Cultura e Artes deve enaltecer os grupos e figuras emblemáticas do Carnaval e da rebita, valorizar os autores incontornáveis da história da música e da literatura angolana tais como: Agostinho Neto, António Jacinto, António Cardoso, Raul David, José Oliveira de Fontes Pereira, Eleutério Sanches, Waldemar Bastos, Bonga e os agrupamentos históricos da Música Popular Angolana como os Kiezos, Jovens do Prenda, Merengues, África Show, Águias Reais, incluindo a premiação simbólica da música de intervenção do agrupamento Nzaji, pela sua transcendência cultural e, fundamentalmente, política.
Está claro que tal desiderato só vai ser possível com a reformulação do regulamento, a selecção de um júri especializado e responsável, porque entendemos que os criadores podem não possuir o domínio de determinados pressupostos teóricos e práticos, indispensáveis ao exercício, pleno, do julgamento crítico da arte.
A categoria da literatura e da investigação em ciências sociais e humanas, por exemplo, exigem, do júri, uma leitura profunda, especializada, atempada e integral dos textos, com recurso às modernas teorias de análise e interpretação literária, sobretudo as que privilegiam os métodos inter-disciplinares, incluindo o domínio das teses textualistas, de inspiração pós-estruturalista, e dos contextos culturais dos quais emanam as obras a serem avaliadas.
O Prémio Nacional de Cultura e Artes deve valorizar, de igual modo, a inteligência da contemporaneidade artística angolana, quando pontificar a pertinência, a qualidade, a inovação e a recepção, favorável, da crítica internacional especializada, sobretudo nas categorias das artes plásticas, teatro, dança, cinema e audiovisuais.
Importância histórica do agrupamento Nzaji
Não devemos nunca esquecer que a musicalidade do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, enquanto cantor e compositor, integrado no conjunto Nzaji – sempre esteve relacionada com os objectivos da luta de libertação nacional, concretizada na guerrilha, facto que culminou, de forma vitoriosa, com a conquista e celebração da independência nacional.
De notar que a música, no período romântico da guerrilha, acabou por cumprir com a sua função mobilizadora, cuja magnitude e efeitos psicológicos, através do programa “Angola Combatente”, ajudaram a mobilizar muitos jovens a aderir e compreender os objectivos e a nobreza da luta de libertação nacional, um acto cultural por excelência, segundo as palavras do Chefe de Estado, na abertura do III Simpósio sobre Cultura Nacional, em 2006: “Pronunciei-me poucas vezes sobre este tema (referia-se, Sua Excia, à cultura). A minha principal atenção foi dedicada às inúmeras prioridades que, no plano político, militar, económico e social, todos tivemos de assumir para defender a pátria angolana das agressões externas e para manter a integridade do nosso território dentro das fronteiras estabelecidas. Ao fazê-lo estávamos, afinal, a fazer um acto de cultura pois, assim, protegíamos a matriz material, na qual todas as manifestações culturais e artísticas se podem concretizar e expandir”. Interessante a forma como o Presidente da República considera a defesa da pátria e a consequente “matriz material” , como sendo actos superiores de cultura.
Histórico da primeira edição
A primeira edição do Prémio Nacional de Cultura e Artes conseguiu distinguir, entre os autores passíveis de premiação, figuras que, pelo seu contributo, dignificaram a dimensão patrimonial da cultura nacional.
Encontrar merecedores do prémio, nem sempre é uma tarefa difícil se, do respeitável júri, exigirmos uma isenta acuidade e profundo conhecimento, no processo de análise, da história do nobre universo das artes e da cultura angolana. Contudo, a competente decisão do júri, não deixa de ser pedagógica no sentido em que desperta, às novas gerações, o conhecimento e importância de figuras da história da cultura angolana.
A obra de Óscar Ribas, um dos justos premiados da primeira edição, atravessa o âmbito literário e atinge o domínio da investigação antropológica, só comparáveis pela profundidade e importância do objecto do estudo aos trabalhos desenvolvidos pelos antropólogos José Redinha e Mesquitela Lima.
A obra de Viteix estabelece um diálogo entre a tradição e a modernidade, com fiéis seguidores. Ruy Duarte de Carvalho move as rédeas de uma criatividade interdisciplinar, de forma centrífuga e centrípeta, revelando-se um artista periscópico e preocupado.
A personalidade musical de Zé Keno, outro dos premiados da primeira edição, ainda é um mistério. Sem o Zé Keno a Música Popular Angolana não teria o figurino estético que hoje ostenta.
Vencedores deste ano
A edição 2009, do Prémio Nacional de Cultura e Artes ditou, na generalidade, uma sentença equilibrada. Na literatura, o escritor João Melo, nas artes plásticas, o Núcleo de Pintores de Benguela, no teatro, o Colectivo de Artes Cénicas Miragens Teatro, na dança, o grupo de dança Akixi & Cianda, na investigação em ciências sociais e humanas, o investigador Carlos Serrano e, na música, o tardio reconhecimento do cantor e compositor Carlos Burity, o “messias” do semba, acabaram por finalizar um processo de avaliação e premiação possível, num universo em que a categoria do cinema e audio-visuais não mereceu, incompreensivelmente, e pela terceira vez, o reconhecimento do júri.
por Jomo Fortunato
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