quarta-feira, 14 de março de 2012 0 comentários

Bruno M: Do Crime Ao Sucesso


Ainda em 2004, por influência de amigos com quem partilhou vizinhança, tornou-se membro de um gang juvenil, conhecido por Alameda Squad.

Registado pelo nome de William Bruno Diogo do Amaral, filho de Pedro do Amaral e de Merciana Manuel Pascoal Diogo, casado, de nacionalidade angolana, nascido na província de Malanje aos 15 de Setembro de 1985, hoje ao falarmos de Bruno M, falamos nem mais nem menos do que um jovem que dedica-se à música desde os tempos mais remotos da sua adolescência. Desde 1999 aos meados de 2004, foi praticante de rap das ruas de Luanda aos mais variados home studios da cidade.

Ainda em 2004, por influência de amigos com quem partilhou vizinhança, tornou-se membro de um gang juvenil, conhecido por Alameda Squad, grupo muito polémico na época. Nos finais do mesmo ano, também conhecido por “Scocia” no seio do grupo, Bruno M e alguns membros do grupo são presos na C.C.L. (cadeia central de Luanda), fruto das praticas anti-sociais desencadeadas na época, vindo a passar lá alguns dias antes de liberdade. «Aquele foi como um mal necessário, pois foi praticamente ali onde tudo começou… Por influência de alguns jovens que lá faziam kuduro por diversão, comecei a escrever alguns versos de kuduro, nos quais retractava as minhas vivências na época...».

Mais tarde, pós liberdade, decidiu corrigir e concluir alguns dos versos compostos na C.C.L., tendo então a sua primeira letra concluída intitulada “Não respeita, né?!”. «No princípio do segundo semestre de 2004 ainda procurei por alguém que cantasse o “Não respeita, né?!”, mas foi um esforço em vão, pois não encontrei alguém que cantasse como eu quis que a letra fosse interpretada. Na altura eu já fazia instrumentais de kuduro e captação de voz em estúdio caseiro, onde fazia a produção de vários kuduristas mesmo antes de eu começar a cantar, daí o nome de “Bruno Mágico” assim baptizado pelos mesmos kuduristas dos quais fazia a produção musical. Foi então quando experimentei interpretar a letra por cima de um instrumental de minha autoria e felizmente a música foi bem aceite, não obstante o facto de, nos primeiros dias receber ainda muitas criticas e ser alvo de troça de algumas pessoas que ainda não compreendiam a tendência inovadora que eu trazia ao estilo Kuduro, apesar de não ter cantado por fins de expansão». Não foi necessário muito tempo e já era notável um grande número de jovens que faziam kuduro inspirando-se no “Não respeita, né?!” de Bruno M.

Daí observava-se, então, um grande exemplo de vida, particularmente aos jovens luandenses, numa altura em que estavam na sua maioria envolvidos em práticas menos lícitas como associações de malfeitores (gangs) e outras espécies de má conduta social. Após aperceber-se que podia fazer algo melhor, Bruno M entregou-se à arte na sua forma musical arrastando consigo uma legião de jovens que no passado perdiam-se em práticas criminosas e encontraram no Kuduro consolo e meio de manifestação e expressão.
Sem qualquer objectivo profissional, Bruno M lançou nos meados de 2005 a sua segunda musica intitulada “I am”, expressão inglesa que significa “Eu sou”. «Como não deixava de ser, era uma música onde eu retractava as minhas vivências, a minha zona, em fim… Na verdade eu achei no kuduro um canal aberto onde pude me exprimir de modo livre e demonstrar ao público em geral que não éramos exactamente o que as pessoas diziam, mas sabíamos e fazíamos coisas melhores, dai a minha preocupação em trazer sempre um conteúdo musical de abrangência social com vista a contribuir modestamente para o equilíbrio da classe juvenil…». 
 
Ainda nos finais de 2005 Bruno M começou a compor a sua terceira letra intitulada “1 para 2”, tendo concluído a mesma apenas no segundo mês do ano seguinte. Era uma letra mais matura onde já apareciam versos com desencorajamento ao crime, em fim… “1 para 2” foi simbolicamente o começo de uma nova era do kuduro, tudo porque daí em diante já apareciam músicas de kuduro com um certo conteúdo informativo e educativo acima de tudo. Foram surpreendentemente três sucessos consecutivos, o suficiente para convencer qualquer ouvinte, e como onde há fumo, quase sempre há fogo, Bruno M foi recebendo muitas propostas contratuais de editoras e empresários atraídos pelo sucesso alcançado, sem querer, por este jovem músico que já não tinha nada para além do prazer em musicalizar para consolar a sua alma quebrantada pelos problemas sociais que o afrontavam. Estavam então as portas abertas para que se tornasse sólido o projecto “Batida Únika”. 
 
Foi então a partir de 2006 que Bruno M iniciou a produção executiva do seu primeiro álbum que viria a intitular-se “Batida Únika”, por se tratar de uma nova vertente do estilo Kuduro e que, desde então, tornou-se na forma padrão de fazer o estilo até aos dias de hoje. O processo de produção das 15 faixas musicais que compunham o álbum, nomeadamente “Não Respeita, Ne?!”, “Olha Quem Vem Ai”, “Para-choque”, “Toques De Caixa”, “Tsunami”, “I Am”, “Dança Da Tropa”, “Endju Tupiluke”, “E Bom!”, “Tropa 100 Farda”, “Txubila”, “1 Para 2”, “Sentem”, “60 Segundos” e “Maratona”, foi concluído apenas em 2008, ano em que foram oficialmente expostas 14 mil copias à disposição do impetuoso público amante do estilo, no dia 3 de Fevereiro, na portaria do cine Atlântico em Luanda, e subsequentemente Bruno M e o seu elenco iniciaram uma tournée inter-provincial em Angola com vendas do seu álbum e os respectivos shows de apresentação. 
 
Dentre outros eventos internacionais em que participou Bruno M, um dos mais relevantes aconteceu ainda no ano 2008, aos 25 de Janeiro, no Brasil em que, juntamente com outras vozes da música angolana, nomeadamente Ary, Noite e Dia e Yola Semedo, representou Angola em um evento cultural alusivo a mais um aniversario do estado de S. Paulo, no Brasil e concomitantemente da província de Luanda, em Angola.

Trata-se de um evento que entreteve aproximadamente 80.000 espectadores estrangeiros que puderam presenciar o desigual ritmo do estilo Kuduro como uma vertente moderna da musica angolana. A grande importância do evento residiu no intercambio cultural que contribuiu para a expansão da musica angolana, em particular o Kuduro, sem esquecer a grande importância da data para os povos brasileiro e angolano.

Também foi em 2008 que Bruno M aparece no Top dos Mais Queridos, festival musical de maior relevância em Angola de frequência anual realizado pelo grupo Rádio Nacional de Angola onde são eleitos, através de votação pública, os dez melhores músicos de cada ano. A participação de Bruno M veio confirmar a qualidade da sua criação musical, evidenciando a sua modesta contribuição para a boa imagem do estilo Kuduro e a sua aceitação nos grandes grupos sociais
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Em Julho de 2009, Bruno M produz e lança o single “Dança Do Scomba” que tornou-se em um grande sucesso alem de fronteiras e garantiu a sua vitória na primeira edição do prémio Top Kuduro, realizado e produzido pela Rádio Escola, através do Grupo Cefojor aos 27 de Dezembro do mesmo ano.
Casou-se em Agosto de 2009 com Wine Carvalho do Amaral, com a qual tem um filho, William César do Amaral.
Aos 10 de Abril de 2010, Bruno M participou de forma relevante em outro grande evento internacional no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, Portugal. Ate agora considera-se que foi o maior evento internacional da musica angolana, pois levou um leque de aproximadamente 50 dos melhores artistas nacionais da idade contemporânea. O evento foi realizado pela LS Producoes comemorando uma grande efeméride para o Estado Angolano que significava o oitavo aniversario desde o acordo de paz definitivo assinado em Luanda aos 04 de Abril de 2002. Dentre o extensivo leque de artistas que que representaram no grande palco do Pavilhão Atlântico, Bruno M foi o escolhido para encerrar o evento, possibilitando assim que ate as 04 horas da manha ainda se encontrassem ai, de pe e sentados, milhares de cidadãos do quadro dos PALOPs e não so que aguardavam expectantes pela actuação de Bruno M. Foi um dos eventos mais singulares de toda a minha carreira musical... Eu me encontrava trancado no meu camarim, totalmente desesperado pois não acreditava que ainda encontraria publico na plateia visto que ja eram 04 horas da madrugada, mas confesso que, quando subi ao palco pude ter uma idea do quanto as pessoas ja estavam ligadas a minha musica, tanto africanos como indivíduos de outros pontos do mundo que se faziam presentes naquela grande sala de espectáculos, pois encontrei uma grande plateia que ultrapassou as minhas expectativas.
De lá para cá, Bruno M é simplesmente uma das figuras mais emblemáticas do estilo Kuduro de todos os tempos, pelas suas características artísticas desiguais e por ser ele mesmo o compositor, interprete e produtor das suas próprias musicas, tudo isso de forma consideravelmente excelente e sem precedentes pelo seu outro lado de intervenção como agente social através da chamada de atenção, principalmente aos jovens angolanos de maneiras a contribuírem activamente no crescimento saudável do país por via da formação académica e profissional e consequente inserção no mercado de trabalho, pautando também pela boa conduta social dentro dos limites da moral e do civismo. 
 
Actualmente Bruno M encontra-se a preparar o seu próximo álbum e uma das grandes metas que tem agora é a de criar um nexo entre o elemento “acústico” e o elemento “electrónico” da sua música, dos estúdios aos palcos diversos proporcionando momentos de actuação ao vivo e com banda, com o objectivo de transmitir a tão questionada alma artística existente por traz do carácter empírico do Kuduro.
 
Dentre outras competências profissionais ou intelectuais, Bruno M é compositor e produtor musical, estudante da Faculdade de Direito da Universidade Independente, em Angola e recentemente formado em Jornalismo Profissional pelo CeFoJor (Centro de Formação de Jornalistas) na modalidade teórica e pratica. É membro da associação A.H.A.R.P.E. (Acção Humanitária de Assistência e Reinserção de Presos e Exilados), na categoria de benemérito, com um objecto social unicamente filantrópico. 
 
Dentre outros projectos vindouros, Bruno M e a sua produtora têm em vista a realização de um filme que ira inclinar-se na própria historia da trajectória do artista. Existe também o projecto de produção e apresentação de um programa de Kuduro no canal internacional de musica africana, Afro Music Channel, ainda para o ano 2010. 
 
Bruno M pretende lançar o seu segundo álbum o mais brevemente possível, traçando um afastamento parcial ao mercado musical activo, mormente o Kuduro, para dedicar mais do seu tempo e atenção a sua formação com a finalidade de iniciar o próximo ano direccionado a uma perspectiva diferente, propriamente ligada ao seu tão augurado estatuto social.

Fonte:Revista Platina
sábado, 18 de fevereiro de 2012 0 comentários

Biografia de André Mingas

''A alegria, o amor, carinho e a tranquilidade, são as chaves para um grande sentido de paz, fraternidade e para sempre alimentar as nossas almas''.  André Mingas.
André Rodrigues Mingas Júnior, que também é conhecido por André Vieira Dias Mingas, pois a sua Mãe é Vieira Dias, é irmão de Ruy Vieira Dias Mingas, Saydi Vieira Dias Mingas, que também era escritor (Gasmin Rodrigues), sobrinho de Liceu Viera Dias e primo de Carlitos Viera Dias. Todos eles monstros sagrados da Cultura Musical e Política de Angola.
André Mingas também usa o nome de Gasmin Rodrigues em projectos de Arquitectura, pois Gasmin é Mingas ao contrário.
Este senhor da música e da cultura é filho de André Rodrigues Mingas e Antônia Vieira Dias Mingas, nasceu em Luanda, a 24 de Maio de 1950. Influenciado pelo seu irmão Ruy Mingas e pela genialidade de Liceu Viera Dias, graças ao seu talento indiscutível e sentido de modernidade, começou desde muito cedo a criar uma nova sonoridade musical em Angola, quando mais ninguém o fazia, o que é visível no seu primeiro álbum denominado "Coisas da Vida".
Embora o CD tenha sido produzido há 30 anos, continua a ser actualmente uma das principais referências da moderna música angolana, misturando já naquela altura ritmos locais com sonoridades do jazz e do rock no semba criando a ideia do semba jazz, criticado na época.
O músico e compositor, segundo Filipe Mukenga, foi a sua principal influência levando-o a adoptar as dissonâncias que hoje são uma característica de Filipe Mukenga.
André Mingas tal como Filipe Mukenga e Waldemar Bastos fazem parte da geração de ouro de músicos de excelência que emergiu e teve sucesso nos anos 1970 e 1980. Precisam de ser ouvidos e tocados pelas novas gerações para enriquecimento da música angolana.
O pai do "Mufete" foi vice-ministro da Cultura e durante o seu mandato criou a sociedade de autores Angolanos denominada SADIA que existe até hoje. Segundo um quadro do Ministério da Cultura, não identificado, André Mingas foi o homem da massificação cultural, das ideias do Instituto Médio (em construção) e do Instituto Superior de Artes e Cultura e Museu de Arte Contemporânea.
André Mingas terminou os seus estudos na Universidade Agostinho Neto e posteriormente na Universidade Técnica de Lisboa. Foi Arquitecto, Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Secretário para os Assuntos Locais do Presidente de Angola, foi Vice-Ministro da Cultura, formador de quadros em Portugal onde foi Professor do 5º ano de Arquitectura da Universidade Lusófona de Lisboa. É referenciado pelos seus alunos e pelo Professor Troufa Real como um grande comunicador, versátil e cativante, as suas aulas estavam sempre cheias pela sua capacidade comunicação e cultura e ainda por cima com um tremendo coração.
Enquanto arquitecto é respeitado no seu país e é o percursor das ideias de requalificação de vários bairros da cidade de Luanda.
André Vieira Dias Rodrigues Mingas Júnior foi um dos fundadores da União dos Artistas Angolanos tendo composto músicas e letras que expressam o amor, valorizam a mulher angolana e expressam a realidade da vida com grande sentido de paz e fraternidade.
Oiçam este senhor e a sua música!
Bem haja André Mingas

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André Mingas

Data de nascimento : 24 de Maio de 1950 (f. em São Paulo, Brasil, a 11 de Outubro de 2011)
Naturalidade : Luanda
André Rodrigues Mingas Júnior que também é conhecido por Andre Vieira Dias Mingas, pois a sua Mãe é Vieira Dias, é irmão de Ruy Vieira Dias Mingas, Saydi Vieira Dias Mingas que também era escritor (Gasmin Rodrigues), sobrinho de Liceu Viera Dias e primo de Carlitos Viera Dias. Todos todos eles monstros sagrados da Cultura Musical e Política de Angola.
André Mingas também usa o nome de Gasmin Rodrigues em projectos de Arquitectura, pois Gasmin é Mingas ao contrário.
Este Sr da Musica e da Cultura, filho de André Rodrigues Mingas e Antônia Vieira Dias Mingas, nasceu em Luanda aos 24 de maio de 1950. Influenciado por seu irmão Ruy Mingas e pela genialidade de Liceu Viera Dias, graças ao seu talento indiscutível e sentido de modernidade, começou desde muito cedo a criar uma nova sonoridade musical em Angola quando mais ninguém o fazia o que é visível no seu primeiro álbum denominado Coisas da Vida, que embora produzido há trinta anos atras é nos tempos de hoje uma das principais referencias da moderna música angolana de hoje misturando já naquela altura ritmos locais com sonoridades do Jazz e do rock no Semba criando a ideia do Semba jazz na epoca criticado. Este Sr segundo Filipe Mukenga foi a sua principal influencia levando-o a adoptar as dissonâncias que hoje são uma característica do grande autor que é Filipe Mukenga.
André Mingas tal como Filipe Mukenga e Waldemar Bastos faz parte da geração de Ouro de musicos de excelência que emergiu e deu sucessos nos anos 70 e 80 com diferenciação e precisam de ser ouvidos e tocados pelas novas gerações para enriquecimento da música angolana.
André Mingas como Autor de um álbum solo saído pela EMI- Valentin de carvalho,participou igualmente na compilação Afropea3 produzido por David Byrne com o título N’zambi e com os arranjos marcados pelo salsa cubana e segundo se sabe esta a terminar um novo álbum cujo título ainda desconhecemos. Mas temos conhecimento de participações especiais de Kirk Whalum e Abraham Laboriel. Como admiradores aguardamos ansiosos para conhecer os novos contornos deste grande musico.
Andre Mingas foi Vice-Ministro da Cultura e durante o seu mandato criou a sociedade de autores Angolanos denominada SADIA que existe até hoje. Segundo um quadro do Ministério da Cultura não identificado Andre Mingas foi o homem da Massificacao Cultural, das ideias do Instituto Médio( em construção) e Superior de Artes e Cultura e Museu de Arte Contemporânea.
André Mingas terminou os seus estudos na Universidade Agostinho Neto e posteriormente na Universidade Técnica de Lisboa. É Arquitecto, Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Secretario para os Assuntos Locais do Presidente de Angola foi Vice-Ministro da Cultura, formador de quadros em Portugal onde foi Professor do quinto ano de Arquitectura da Universidade Lusófona de Lisboa e referenciado pelos seus alunos e pelo Professor Troufa Real como um grande comunicador, versátil e cativante, as suas aulas estavam sempre cheias pela sua capacidade comunicação e cultura e ainda por cima com um tremendo coracao é só mesmo do André Mingas que Deus me deu o privilegio de conhecer.
Enquanto arquitecto é respeitado no seu País e é o percursor das ideias de requalificação de vários bairros da cidade de Luanda.
André Vieira Dias Rodrigues Mingas Júnior foi um dos fundadores da União dos Artistas Angolanos tendo dedicado músicas e letras que expressam o amor, valorizam a mulher angolana e expressam a realidade da vida com grande sentido de paz e fraternidade.

8 de Agosto de 2011 – Club-k.net – André Rodrigues Mingas Júnior, o Secretário para Assuntos Locais do Presidente da República esta em vias de ser despachado para a cidade brasileira de São Paulo como Cônsul Geral de Angola, em substituição do diplomata Oliveira Francisco Encoge.
A indicação do mesmo foi uma iniciativa do PR, movido pelo sentido de atenuar as constantes viagens ao Brasil que André Mingas vinha efectuando em resposta a convalescência. A solução antes encontrada levava com que se deslocasse uma vez por semana à cidade de Johanesburgo pelas mesmas razões ao destino anteriormente citado. Em solidariedade com o mesmo, JES decidiu mantê-lo em São Paulo, nas vestes de diplomata.
O seu antecessor, Oliveira Encoge, que é na carreira diplomática ministro conselheiro, já se encontra em Angola desde a primeira semana de Junho. Enquanto se aguarda pela chegada do novo cônsul André Mingas Júnior, aquela missão diplomática é provisoriamente chefiada por Albertino Manuel de Jesus, o Vice-Cônsul para o Sector Consular. Este ano as autoridades enviaram também um segundo Vice-Cônsul, Belmiro dos Prazeres Guimarães, que se dedica às questões das comunidades.
A faceta profissional
De recordar que o novo cônsul geral em São Paulo é arquitecto de formação, formado pela Universidade Agostinho Neto e Universidade Técnica de Lisboa. Tem Mestrado em arquitectura de habitação e já exerceu a docência universitária em Portugal. Foi a figura a quem o chefe do executivo deu, há 5 anos atrás, a missão de repensar e desenhar a modernização de Luanda, para fazer da capital do país uma cidade mais contemporânea.
Como arquitecto ligado ao poder de decisão, ressalva-se por não ter “apadrinhado” a destruição do antigo mercado do Kinaxixe, cuja importância o mesmo reconhecia. Em 2002, escreveu um texto em que dizia: “o Kinaxixe, para além do valor patrimonial enquanto obra arquitectónica, é um dos últimos grandes exercícios de arquitectura tropical produzidos no país e que traduz, de forma indelével, o pensamento que deve estar subjacente à cultura construtiva em países tropicais”. Segundo explicou, o edifício não só é um caso reconhecido de qualidade arquitectónica, como deve ser tomado enquanto exemplo para a prática contemporânea. (recado não acatado)
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13 Outubro 2011 – O Apostolado – André Rodrigues Mingas Júnior, que também é conhecido por André Vieira Dias Mingas, pois a sua Mãe é Vieira Dias, é irmão de Ruy Vieira Dias Mingas, Saydi Vieira Dias Mingas, que também era escritor (Gasmin Rodrigues), sobrinho de Liceu Viera Dias e primo de Carlitos Viera Dias. Todos eles monstros sagrados da Cultura Musical e Política de Angola.
André Mingas também usa o nome de Gasmin Rodrigues em projectos de Arquitectura, pois Gasmin é Mingas ao contrário.
Este senhor da música e da cultura é filho de André Rodrigues Mingas e Antónia Vieira Dias Mingas, nasceu em Luanda, a 24 de Maio de 1950. Influenciado pelo seu irmão Ruy Mingas e pela genialidade de Liceu Viera Dias, graças ao seu talento indiscutível e sentido de modernidade, começou desde muito cedo a criar uma nova sonoridade musical em Angola, quando mais ninguém o fazia, o que é visível no seu primeiro álbum denominado “Coisas da Vida”.
Embora o CD tenha sido produzido há 30 anos, continua a ser actualmente uma das principais referências da moderna música angolana, misturando já naquela altura ritmos locais com sonoridades do jazz e do rock no semba criando a ideia do semba jazz, criticado na época.
O músico e compositor, segundo Filipe Mukenga, foi a sua principal influência levando-o a adoptar as dissonâncias que hoje são uma característica de Filipe Mukenga.
André Mingas tal como Filipe Mukenga e Waldemar Bastos fazem parte da geração de ouro de músicos de excelência que emergiu e teve sucesso nos anos 1970 e 1980. Precisam de ser ouvidos e tocados pelas novas gerações para enriquecimento da música angolana.
O pai do “Mufete” foi vice-ministro da Cultura e durante o seu mandato criou a sociedade de autores Angolanos denominada SADIA que existe até hoje. Segundo um quadro do Ministério da Cultura, não identificado, André Mingas foi o homem da massificação cultural, das ideias do Instituto Médio (em construção) e do Instituto Superior de Artes e Cultura e Museu de Arte Contemporânea.
André Mingas terminou os seus estudos na Universidade Agostinho Neto e posteriormente na Universidade Técnica de Lisboa. Foi Arquitecto, Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Secretário para os Assuntos Locais do Presidente de Angola, foi Vice-Ministro da Cultura, formador de quadros em Portugal onde foi Professor do 5º ano de Arquitectura da Universidade Lusófona de Lisboa. É referenciado pelos seus alunos e pelo Professor Troufa Real como um grande comunicador, versátil e cativante, as suas aulas estavam sempre cheias pela sua capacidade de comunicação e cultura e ainda por cima com um tremendo coração.
Enquanto arquitecto é respeitado no seu país e é o percursor das ideias de requalificação de vários bairros da cidade de Luanda.
André Vieira Dias Rodrigues Mingas Júnior foi um dos fundadores da União dos Artistas Angolanos tendo composto músicas e letras que expressam o amor, valorizam a mulher angolana e expressam a realidade da vida com grande sentido de paz e fraternidade.
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13 de Outubro – O Secretário para Assuntos Locais do Presidente da República, André Rodrigues Mingas Júnior, 61 anos de idade, faleceu as 17 horas de terça-feira (dia 11), na Unidade do Hospital São José, da Beneficência Portuguesa na cidade de São Paulo, Brasil. Três dias antes do infausto, o malogrado sentiu-se mal e foi de seguida levado ao hospital.
O malogrado encontrava-se naquele país a receber tratamento, e estava em vias de ser confirmado Cônsul-Geral em São Paulo, em substituição de Francisco Encoge. Esteve em Luanda a três semanas atrás para rever procedimentos da nomeação e regressou ao Brasil na passada sexta-feira (07). Previa, dentro de dias submeter alguns documentos junto das autoridades brasileiras respeitante a sua indicação como diplomata.
A decisão de indicá-lo como futuro cônsul foi uma iniciativa do PR angolano, movida pelo sentido de atenuar as constantes viagens ao Brasil que André Mingas, vinha efectuado em resposta a convalescia. A solução antes encontrada levava com que se deslocasse uma vez por semana a cidade de Johanesburgo pelas mesmas razões ao destino anteriormente citado. Em solidariedade com o mesmo, JES decidiu então mante-lo em São Paulo, nas vestes de diplomata. Durante as ultimas semanas esteve em contacto com a comunidade angolana para se inteirar dos trabalhos que teria pela frente.

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André Mingas - Um sorriso musical que deixa um país a “andrear”

 


Há seres humanos que acabam por deixar de pertencer aos seus familiares e passam a pertencer a todo um povo, André Mingas foi um deles. Continuará a sê-lo enquanto viver na memória da sua música e a preencher espaços das nossas vidas com a harmonia da sua obra.

Na hora da partida, aos 61 anos, André Mingas deixou suspensa uma nota musical que pôs os angolanos a cantar, um pouco como se cada um dissesse presente! Eu sinto esta música.
“Sentimos no teu canto de violão sincopado, tantas vezes igual ao teu e cada vez mais igual a ti mesmo, a eterna majestade de um rei de coroa de sonhos e manto de charmes que tivemos o privilégio de ter emprestado de Deus durante 61 anos”, leu-se no elogio fúnebre. E este empréstimo levou André a, nas palavras do amigo Reginaldo Silva, saber “influenciar e alterar positivamente, como poucos, o curso normal dos acontecimentos”.
UM SORRISO QUE É UMA MARCA
“E superaste na mestria de sorrir camuflando sabe-se lá que pesares… Sorrisos de fazer bem à alma alheia que deixam como rastro uma lembrança bonita: não nos lembramos de ti com outra aura que não tenha sido a da beleza e da gentileza”. Esta passagem, igualmente lida no elogio fúnebre, acaba por ilustrar aquilo que é a imagem que André soube passar de si para a família e para a sociedade. Soube passar e soube ser. Um homem que sabia sorrir. Provavelmente será esta a imagem que o manterá presente para sempre.
Sabe-se que André Mingas recebeu o seu último disco “É Luanda” um dia antes da sua morte. Tê-lo-á recebido de sorriso aberto, o mesmo sorriso com que agradecia a Luanda, a sua cidade, cada tijolo utilizado na construção da sua vida, da sua carreira como arquitecto e da sua carreira como músico; cada amigo, cada admirador. E admiradores teve-os André muitos, o que o levou a saudá-los na dedicatória do seu novo disco. “Saudação especial a todos os jovens angolanos intérpretes das minhas canções: o meu muito obrigado por me estimularem tanto”. E é enorme a lista de nomes citados na dedicatória que vem no disco, uma lista que por si só fala da forma como André pertenceu às pessoas e como estas lhe pertenceram também. André trata-os pelos “nomes de casa” e por outras formas carinhosas como “primo maior”. Mas o carinho era recíproco, André Mingas era tratado por eles como “mano miúdo” e Índio. Para os sobrinhos, na boa tradição africana, André Mingas era apenas o pai.
Ao menos num aspecto a morte não traiu o músico por completo, deixou-o ver a sua obra última, trinta anos depois de “Coisas da Vida”, um disco que, para muitos, veio abrir uma nova era na música angolana, dando-lhe um forte empurrão para a sua internacionalização. Voltando a Reginaldo Silva, “com o “Coisas da Vida” aprendemos a detestar a mediocridade das letras que continuam a povoar a maior parte das músicas angolanas.

Uma família de Angola 
Ou porque Ruy Mingas foi embaixador e antes secretário de Estado, ou porque Saidy Mingas foi cantado como herói nas músicas dos primeiros anos da Angola independente. Ou ainda porque o próprio André chegou a assessor da Presidência da República, depois de ter sido vice-ministro da Cultura, a família Mingas é daquelas que os angolanos conhecem. Quanto mais não fosse pelo seu papel na formação de milhares de jovens. Amélia Mingas, irmã de André, é antes de tudo conhecida como professora, como é hoje a sobrinha Ângela e como o foi o próprio André. Jorge, Francisco, Ruy, Amélia, Saidy, Júlia, José Norberto, Rosa, Ambrosina e Luís são os nomes dos irmãos do arquitecto que se entregou ao mundo pela música.

MINHA MULHER, MEU REI
Ayhame Mingas, o filho de André, tratava o pai por”meu rei”. Neste particular André soube fugir da imagem habitual do africano artista e boémio. Ayame é filho único nascido do “amor absoluto cantado em prosa e poesia” por André Mingas, assumem os familiares, por Bety, a “minha mulher” como a namorava André por mais de trinta anos.
A VIDA ATÉ AO FIM
Profundo sentimento de gratidão para com os meus médicos e amigos Raul Cutaite, Buzaide e toda a equipa do Sírio-Libanês, pela entrega e toda a competência com que cuidaram de mim”. Esta passagem está entre os agradecimentos constantes na nota de dedicatórias que acompanha o último disco de André Mingas, ainda não lançado mas que a família já decidiu que colocará no mercado. “…pela entrega e toda a competência com que cuidaram de mim”. Como os grandes homens também André deixou aqui um enigma: “cuidaram”. Era André a despedir-se, ou um André que acreditava ter vencido o cancro?
A VIDA COMEMORADA NUM MUFETE

“Viemos para homenagear o teu percurso de vida. Sim, André! Mais do que a morte – mera circunstância biológica – é a vida que tu viveste que nos reúne aqui, hoje!”. As palavras são de Archer Mangueira e José Pedro de Morais (Liderança). São palavras que cabem na tal luz que é o sorriso de André Mingas. Uma luz que foi capaz de fazer dos familiares os seus primeiros fãs e de trazer os fãs para uma espécie relacionamento chegado, quase familiar, ou como conhecidos de longa data. E um homem assim tem nos olhos e no sangue aquilo que a arte, apenas a arte, esta forma de estar na vida e passar a vida a redesenha-la, dá a alguns escolhidos. André Mingas foi arquitecto, compositor e músico, sementes mais que suficientes para ter um percurso político sem a imagem do politiqueiro cru. Ele não sabia viver fora da arte que era a sua vida.

O mufete que André servia em sua casa, onde não iam apenas os muito próximos, sabe-se lá o que era ser próximo para um homem como André, servia-o com a “força do carácter, energia irradiante, a facilidade no relacionamento”. Como escreve Archer. Aliás, o mufete de André acabou por ser servido em música, numa “mufetada” em que convidou todos os angolanos e que estes ainda hoje cantam.
Os homens que amam a arte não cabem no mundo das fronteiras, raças e ideologias. Nem sequer no tempo que as suas vidas percorrem. André repetia: “Eu sou um Homem do mundo moderno, estou definitivamente comprometido com o futuro e não adio”. E o mundo não adiou o seu reconhecimento, aceitou-o como um daqueles que vêem dar um toque de beleza à nossa existência. “A humildade era em ti uma grande virtude, e, a frontalidade e transparência um carácter exemplar de invejar, de um carisma invulgar, de uma simpatia exemplar. Sai do nosso seio um apreciador nato do belo, que descrevia na musicalidade da arte o bem do saber, e cantava o amor como ninguém. Combatia sem qualquer receio a mediocridade na construção e era defensor acérrimo da modernização das cidades e proclamava os valores da nossa cultura com mestria”. Era assim que o viam Archer Mangueira e José Pedro. E assim o registaram numa carta redigida em nome dos “amigos do coração” no dia do funeral.

Homenagem dos funcionários da Presidência da República 
Sua Excelência 
José Eduardo dos Santos, Presidente da República, 
Excelências, prezada família do malogrado André Rodrigues Mingas Júnior, minhas senhoras e meus senhores,

Em nome dos Órgãos Auxiliares do Presidente da República, coube-me o doloroso dever de pronunciar este elogio fúnebre em homenagem àquele que em vida foi André Rodrigues Mingas Júnior, Secretário do Presidente da República para os Assuntos Locais.
Nesta hora de pesar, é com bastante emoção que recordamos o amigo e colega, sempre disponível para prestar a sua colaboração e enriquecer os nossos debates, contribuindo com a sua criatividade para o êxito das nossas responsabilidades.
Estas palavras não são de mera circunstância. Elas correspondem ao que sentimos sobre a personalidade do falecido e à memória que todos temos dele. Era uma pessoa agradável de conviver, de trato simpático, culto e muito educado. Era igualmente de uma grande sensibilidade humana e intelectual e dotado de muito bom sentido de humor.
Prezava muito o conceito de família, e fazia questão de frisar constantemente a forte relação conjugal com a Bety, sua esposa, com o filho Aihame Mingas e com o seu netinho, o Noah. O André dizia-nos que tinha como referências a educação que herdara dos seus pais, tios, avós e demais familiares., Lembrava-se sempre dos ensinamentos, da cultura, das qualidades humanas e políticas do seu pai, André Rodrigues Mingas, dos seus tios João Brás Van-Dúnem, José Vieira Dias Van-Dúnem, José Vieira Dias (Tio Zé Mudo), Mateus Vieira Dias Van-Dúnem, Sinclética dos Santos Torres, Domingas Torres Vieira Dias (Tia Guinhas), Jofre Van-Dúnem e Liceu Vieira Dias.
Deste último afirmava ser fã, não só pelos seus reconhecidos dotes musicais, mas também pela sua personalidade e trajectória política, granjeando a simpatia e a admiração dos seus parentes mais novos. Inscreveu-se, com mérito próprio, numa linhagem de grandes músicos à qual pertence também o seu irmão Rui, e teve uma carreira musical fulgurante e brilhante, com canções que se tornaram verdadeiros clássicos dos nossos dias. Ele foi também um arquitecto do cancioneiro nacional, muito preocupado com a qualidade estética e com a formação da arte da música desde cedo nas crianças.
Naturalmente, o nosso colega também nos falava com tristeza e amargura do desaparecimento dos seus irmãos Saydi e Zé, numa data que considerava que devia ser esquecida. Apesar disso, não guardava rancores e notava-se o esforço que fazia para compreender as circunstâncias em que morte dos seus irmãos ocorreu.
André Mingas era um arquitecto muito comprometido com a ética e a deontologia profissional, mas também corajoso e arrojado nas soluções que encontrava a nível da urbanização para tornar o nosso país mais belo e mais humano. Na sua cabeça fervilhavam mil e uma ideias, que ele queria traduzir em projectos em prol do desenvolvimento do país e do bem-estar dos angolanos.
Alguns desses projectos e ideias, se um dia forem concretizados, tornar-se-ão autênticos ‘ex-libris’ da nossa capital, tendo em conta a qualidade, a inovação estética e a criatividade dos mesmos. Deixa, no domínio da arquitectura e das soluções para os problemas habitacionais e de integração social, uma grande obra, se bem que ainda pouco conhecida, mas que certamente o há-de eternizar.
Não nos podemos esquecer da sua preocupação em clarificar os conceitos no domínio da arquitectura, corrigindo e teorizando. Foi um dos que mais se empenhou em precisar o que são as novas centralidades.
Homem discreto e bom, sempre com um sorriso nos lábios, sofreu com estoicismo sem nunca ter feito sentir aos seus colegas e colaboradores de trabalho a dimensão da sua doença. Era de um optimismo e de uma força impressionantes e tinha muita fé nos destinos do nosso país.
Era sua convicção que, pela natureza do seu povo, Angola sairia da situação de subdesenvolvimento e de desigualdade social mais depressa do que as outras nações africanas. A morte, infelizmente, privou-nos prematuramente da sua energia e saber, deixando um vazio difícil de ocupar.
Perdemos um amigo, um irmão, um camarada.
Repousa em paz, André!
A LEI DA VIDA
“Não posso dizer que não aceito, pois é assim a lei da vida”. Quem o diz é Bochecha, um sobrinho. “Hoje, amanhã e depois de outros carregados amanhãs, não sei e nem saberei como fazer sem ti, não conheço e tenho receio dos caminhos no escuro da vida e sem qualquer esperança de luz que venha do teu sorriso radiante e contagiante”. Mas é a Lei da vida, disse-o bem o sobrinho de André. Afinal, tal como os familiares terão de viver novos dias sem a voz e a presença de André Mingas, também os angolanos ficarão para todo o sempre sem novidades por ele cantadas, sem mais um convite seu para um mufete. Ao menos “Coisas da Vida” e “É Luanda” são marcas a sinalizar a passagem por este mundo de um homem de “bem-querer” e de quem se não lembrará de uma dia de pesar, porque disfarçados num sorriso gentil.
COM A SANTA ANA
A 17 de Outubro de 2011 foi a enterrar, no cemitério de Santana, em Luanda, André Mingas, conhecido músico e arquitecto, falecido em São Paulo, Brasil, vítima de um cancro. O funeral acabou por ser um momento de consternação e de reconhecimento pelo valor da Obra de André Mingas. Foram milhares os angolanos que se juntaram a família e o acompanharam à última morada, entre os quais o Chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, altos dignitários do Estado, mulheres e homens da cultura, antigos alunos e admiradores.


Dionísio Rocha 

O que representa a morte de André Mingas? 
A perca que nos deixa é irreparável. A perca de um indivíduo multifacetado, incentivador da juventude. Embaixador da música angolana no mundo inteiro 
Qual é a dimensão da sua morte para a cultura nacional? 
A dimensão da ausência que sentimos é muito grande. André Mingas ultrapassou fronteiras. Trata-se de uma mais-valia relacionada com os países de língua oficial portuguesa e não só. A dimensão teria de ser avaliada em várias categorias: André Mingas, o músico, o politico, o arquitecto, o professor e o amigo com aquele sorriso marcante, brilhante, com cor de alegria. 
Esteve no cemitério? 
Para além de ser familiar de André Mingas, também me foi recomendada a tarefa de Mestre de Sala durante o funeral. Eu tive como função chamar as pessoas para o acompanhamento próximo da urna a sepultura. 
Como define o “Cantor André Mingas” 
André Mingas foi um lutador incansável na reabertura dos centros culturais.

CALABETO
O que representa a morte de André Mingas?
Seu desaparecimento físico cria, naturalmente, um vazio para os seus familiares, na medida em que ele era pai, esposo e irmão. É a perca de um elemento da vida.
Qual é a dimensão da sua morte para a cultura nacional?
Sua inteligência e integração na música nacional não será fácil de recomposição como sabemos. Não tive nenhum trabalho conjunto com o André Mingas, mas diversas vezes tive a oportunidade de dividir o palco com ele, actuando antes ou depois de mim, no nosso país e pelo mundo. Foi sempre um momento de bravura e alegria vê-lo como expressava os seus textos.
Esteve no cemitério?
Estive no velório. Por motivos de saúde não consegui ir ao cemitério.
Como define o “Cantor André Mingas”
Eu resumo dizendo que André Mingas foi um grande homem. O sorriso nos seus lábios não era de carácter superficial mas substancial, real da sua pessoa. Um cantor com uma alegria e uma voz incansável, com canções muito, muito lindas.
GISELA SILVA
O que representa a morte de André Mingas?
Como uma cantora muito jovem, em relação a André Mingas, não tive a oportunidade de acompanhar a sua carreira que foi de grande mérito. Nós, cantores, temos a oportunidade de mantê-lo vivo, cantando a suas obras que ficarão para sempre.   
Qual é a dimensão da sua morte para a cultura nacional?
Estamos todos de luto e neste contexto deveríamos criar um ângulo para podermos homenageá-lo com um grande show.   E não esquecer de mostrar à nação, ao mundo e à sua família que a sua vida não foi em vão.
Esteve no cemitério?
Eu não pude ir ao cemitério porque estava fora de Luanda. Eu dou aulas no Instituto de Formação de Professores do Huambo. Todas as segundas e terças encontro -me no Huambo a trabalhar.
Como define o “Cantor André Mingas”
André Mingas foi um elemento da paisagem cultural angolana com um grande contributo para muitas gerações.
FILIPE MUKENGA
O que representa a morte de André Mingas?
Eu estou triste demais para poder comentar esta ocorrência e até já estou a tentar esquecer. O homem já esta sepultado. Tento esquecer mas não consigo. Estou muito triste.
No ventre da nossa mãe Angola abriu-se uma ravina músico-cultural
Qual é a dimensão da sua morte para a cultura nacional?
Como intercâmbio nas áreas das ideias musicais eu aprendi com o André a utilização dos acordes invertidos que vêm do Jazz. André era uma pessoa muito criativa.
Esteve no cemitério?
Não tive a oportunidade de participar no funeral. O André Mingas.
Como define o “Cantor André Mingas”
André Mingas deixou um vazio no music-hall nacional. Era um artista engajado na exploração das novas sonoridades inspiradas no Jazz.
Angola perde assim um músico que via a nova música de Angola numa perspectiva internacional.  
O homem que comandava a banda
  André Rodrigues Mingas Júnior, aliás, André Mingas, nasceu em Luanda, a 24 de Maio de 1950. Filho de André Rodrigues Mingas e de Antónia Vieira Dias Mingas, deu os primeiros passos no mundo da música graças à influência do irmão Ruy Mingas, ele  também músico, e pela genialidade de Liceu Viera Dias.
Porém, escreveu o Apostolado, publicação católica, com o seu talento indiscutível e sentido de modernidade começou desde muito cedo a criar uma nova sonoridade musical em Angola. Lançou o seu primeiro álbum “Coisas da Vida” há trinta anos. “Coisas da Vida” continua a ser actualmente uma das principais referências da moderna música angolana, misturando ritmos locais com sonoridades do jazz e do rock,   criando a ideia de uma espécie de “semba-jazz”.
André Mingas, tal como Filipe Mukenga e Waldemar Bastos, fazem parte da geração de ouro de músicos de excelência que emergiu e teve sucesso nos anos 1970 e 1980.
O autor de “Mufete” foi vice-ministro da Cultura e durante o seu mandato criou a Sociedade Angolana de Direitos de Autor denominada SADIA. Segundo um quadro do Ministério da Cultura, André Mingas foi o homem da massificação cultural, da ideia do Instituto Médio (em construção) e do Instituto Superior de Artes e Cultura e Museu de Arte Contemporânea.
André Mingas terminou os seus estudos na Universidade Agostinho Neto e posteriormente na Universidade Técnica de Lisboa, onde fez um mestrado.  Foi Arquitecto, Mestre em Arquitectura e Urbanismo, Secretário para os Assuntos Locais do Presidente de Angola, Vice-Ministro da Cultura, formador de quadros em Portugal onde foi Professor do 5º ano de Arquitectura da Universidade Lusófona de Lisboa.

José Kaliengue
26 de Outubro de 2011
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Kelly Silva, um incorrigível romântico

Cantor romântico, ex-bailarino dos lambada do kinaxixi


Quando o semba e o kizomba eram os estilos dominantes no panorama musical, Kelly Silva, 28 anos, apostou num estilo original. Inspirado por músicos brasileiros como Leonardo, o seu cantor favorito, Alexandre Pires, algumas duplas sertanejas e, essencialmente, pela MPB (Música Popular Brasileira), o romântico incorrigível, que é como ele próprio se define, deu início a uma carreira que apaixonou vários corações.

Sucessos como “Laura”, “Interfone”, “Por Causa Dela”, “Diz Para Mim”, “Miradouro”, “História do Angolano”, “Litito” e “Por amor” marcam a sua carreira. Hoje um dos cantores mais queridos das mulheres angolanas procura conciliar os estudos (está no primeiro ano de Gestão de Empresas) e as gravações do seu próximo álbum.
Nesta entrevista, o pioneiro dos cantores românticos, fala-nos sobre as desilusões amorosas que o inspiraram a escrever as suas mais célebres canções e dá-nos a conhecer os planos para o futuro.

15 anos de carreira. Sente-se orgulhoso de tudo o que alcançou até aqui?

Muito, muito mesmo. O mais difícil foi ser aceite no mercado. Na altura, a música romântica era desvalorizada.  Sofri muito por isso. Fui logo conotado como gay. Quem cantava músicas românticas passava a ser visto dessa forma. Senti na pele todo o tipo de preconceitos. Com o tempo consegui impor o romantismo como estilo que hoje é respeitado pelos angolanos. Nada foi em vão, houve algo de muito positivo no meu trabalho.

Sente-se um pioneiro?


Sim. Conheci gente maravilhosa, fiz novas amizades e abri as portas para todos os cantores que surgiram depois de mim, para que não tivessem que enfrentar o mesmo tipo de preconceitos e barreiras do que eu. No meio de tudo isso ainda consegui fazer o mais difícil que foi manter o meu nome e a qualidade do meu trabalho porque a fama pode ser conseguida da noite para o dia mas também pode fugir de nós em segundos. Nesse sentido, sinto-me orgulhoso porque sempre soube conviver com a fama e com os fãs.


Um percurso admirável que teve início como bailarino do Lambada do Kinaxixi...

Já naquela altura queria muito a música mas também tinha uma paixão muito grande pela dança. Um dia vi o grupo Lambada do Kinaxixi a passar debaixo do meu prédio à procura de um espaço para ensaiar e eu disse-lhes que tinha o lugar certo para eles. Era no terraço do prédio da Cuca, onde nasci. Integravam na altura o grupo, o Duxa da Cabral Moncada, o Menezes, Monjó que hoje é o treinador e presidente do grupo, o Toni Mena, a “loira burra” como nós chamávamos, que era a irmã da Mizé, a Celma, a Detinha, a falecida São. Já era aquele grupo forte dos Lambada do kinaxixi. Foi uma época bonita da minha vida.

Que recordações tem dessa altura bonita?

Eu tinha apenas treze anos. Mas gostava muito de uma menina que já tinha 18 anos. Chamava-se Nina. Recordo também que era a revelação do grupo porque ser o mais pequeno a dançar lambada. Ganhámos muitos concursos. Quatro meses depois já dançava ao lado dos mais velhos e fazia actuações em discotecas. Uma das casas até era de um tio meu, o Bingo. Como não era autorizada a entrada de crianças eu tinha de dançar e depois ir para o escritório do meu tio onde ficava fechado. O Wilson Verdades, que também é meu tio, sabia de tudo. Mas se o Gegé soubesse que eu dançava na discoteca dele, ia contar ao meu pai. Então eu tinha que dançar sempre que o Gegé não estivesse na discoteca. Quando ele estava, dançava disfarçado para ele não se aperceber. [Risos]

Como foi a transição da dança, com os Lambada do Kinaxixi, para a música?

Eu passei a ganhar alguma atenção. Arrisco a dizer que estive entre os melhores da dança em Angola. Fiz comerciais de dança até que conheci o Rey Webba e o Arnaldo. Um dia eu vi o Arnaldo em cima de um jipe UMM a cantar músicas do Leandro e Leonardo e disse que também gostava de cantar. Quando começámos a cantar, um amigo disse que fazíamos uma dupla muito bonita. Assim nasceu “Kelly e Arnaldo”. Juntos gravamos “Jamais Terá Fim”, um grande sucesso  que o público baptizou como “Meu Amor”.

Como foi o primeiro show?

A primeira casa em que cantámos foi o Balumuka e as pessoas gostaram muito. Conhecemos o Marcos Pereira, da LR Produções, que passou a ser o presidente do Lambada do Kinaxixi e me convidou para trabalhar com ele. Todos da minha banda abandonaram o barco. Fiquei apenas eu, a Zuraya Pote, a Jurema e a Detinha. Depois elas também desistiram. Sozinho, acabei por ser convidado pelos irmãos Almeida a subir ao palco numa das suas actuações. Na hora do show o Beto de Almeida disse “há um menino aqui que canta muito bem. Vamos chamá-lo para cantar…”. Todo o mundo na sala, eu incluído, ficou à espera de quem seria. Quando ele disse: “Aquele puto, o Kelly da Lambada”. E, de seguida, o Nelo Paim abandonou o piano e disse “Kelly toca”. Eu fiquei sem saber o que fazer! As pernas começaram a tremer. Eu era bailarino, nunca tinha estado num palco a sério como cantor. Mas foi uma coisa linda de que nunca me vou esquecer. O Boavida Neto foi ter comigo e deu-me os parabéns. Foi das coisas que me tocou. Então eu decidi nunca mais parar.

Como surgiu o Kelly Silva?

Depois daquela actuação eu conheci o Rey Webba e cheguei a fazer parte de uma banda do Miami, os Miami Voice. Aí eu ganhei destaque novamente e a banda passou a ser chamada de “Kelly Silva e os Miami Voice”. O nome Kelly Silva foi-me atribuído pelo Kayaya Jr. nessa altura.

Quando veio o primeiro CD?

Depois de conhecer o Afonso Quintas, as minhas músicas começaram a tocar na rádio, comecei a fazer shows nas províncias, apresentei o karaoke no Karl Marx e, com o tempo, apareceu a oportunidade de gravar um CD. O Beto Max, foi o meu produtor. A música “Laura” e o tema “Sempre Assim”, estoiraram nessa altura e eu ganhei o prémio “Voz Revelação” no Top Rádio Luanda. Em 2004, fui gravar para o Brasil. Com a música “Por Causa Dela” obtive o quarto lugar do “Top dos Mais Queridos”. Com a Efective Eventos gravei o CD História de um Angolano que incluia o tema “Por Você”, que foi a música romântica do ano. Agora só me resta torcer para que o Me Entrego Outra Vez mantenha esse nível.

E a dança. Ficou para trás?

Não, volta e meia faço reciclagens com o grupo Lambada do Kinaxixi. Dou aulas em colégios e este ano quero mostrar um bocado mais de coreografias e do Kelly dançante. Aliás sendo que estamos em 2010, eu vou vestir a camisola 10 este ano. Vou ser 10 em tudo. Ser 10 num novo amor, ser 10 como pai, ser 10 para com os meus amigos e ser 10 na minha carreira. [risos]

Nota-se que melhorou a sua condição física...

Um amigo que também é cantor, o Action Nigga incentivou-me a ir ao ginásio. Disse-me que eu era muito magro e que devia apostar no ginásio. Segui o conselho dele e isso deu-me uma auto- -estima sem igual. O pessoal começou a comentar que eu estava a ficar muito bonito. Agora tornou-se um vício e não consigo ficar sem ir. Quando viajo e fico algum tempo sem ir ao ginásio, faço 400 a 500 flexões todos os dias e 100 a 200 abdominais É um vício. Faz-me bem. Olho para o espelho e sinto-me bem.

Quantas vezes por semana vai ao ginásio?

Ia duas vezes por dia, mas agora diminui porque o meu personal trainer diz que não é bom e que o excesso de exercício pode causar fadiga muscular. Então vou uma vez por dia ao ginásio. Para mim é um terror não ir ao ginásio.

Separou-se recentemente. Quer contar-nos a sua grande desilusão amorosa?


Penso que é algo que todos já vivemos um dia. Pensamos ter encontrado o amor certo para a nossa vida e, de repente, apercebemo-nos que era tudo uma fantasia, um castelo de areia. Quando um amor é mal consolidado desde o princípio acaba por desmoronar. Foram cinco anos de amor e um ano de decepção terrível.


Como foi que vocês se conheceram?

Foi na escola. Éramos colegas de turma e ela entrou para à sala. Foi amor à primeira vista. Na minha escola havia um concurso em que as alunas da escola queriam ver quem é que ia namorar comigo. Perguntaram-lhe se não queria participar e ela foi a única que não quis. Para má sorte das minhas colegas naquela altura, ela é que começou a namorar comigo. Toda a gente ficou revoltada a dizer que ela se tinha armado que não queria nada comigo e afinal… Mas não, foi algo espontâneo. Eu estava a estudar, ela entrou para sala, muito linda, e aquilo foi na hora! No dia seguinte ela escreveu no quadro que estava a precisar de amigos e estava aberta a amizades, deixou o número de telefone no quadro. Eu tinha um show em Benguela no dia seguinte. Tirei o número de telefone e à meia-noite, estava já no Sumbe, liguei para ela, conversámos um bocadinho. Em Benguela tornei a ligar. Depois começámos a namorar. Posso dizer que vivi momentos muito lindos ao lado dela.

O que levou esse castelo a desmoronar?

Isso acontece quando não existe verdade e, o mais importante, confiança. Perdemos aquele sentimento e a relação já não é a mesma. Então preferimos nos separar.

Neste momento está à procura de alguém?

Estou praticamente separado. No dia dos namorados isso vai fazer um ano. Por esse motivo, o dia dos namorados para mim é um dia terrível. Hoje estou aberto a relacionamentos novos. Acredito que a qualquer momento há-de tocar. Eu hei-de apaixonar-me. Tanto eu como o Richard precisamos de uma mulher nas nossas vidas.

Então está à procura de uma namorada?

Estou. Está na hora, o corpo sente necessidade disso.

Que qualidades procura numa rapariga?

A sinceridade é o mais importante. Tem que ser muito honesta. Tem que amar o meu filho e ser apaixonada por mim. Afinal somos dois solteiros em casa. Tem que compreender o meu lado enquanto músico. Alguém que gosta de mim e não apenas do Kelly Silva. A fama faz com que as pessoas confundam os seus sentimentos.

Vive com o seu filho?

Sim. Ele é o meu companheiro de guerra. Viajamos muito juntos. Muitas das vezes a minha manager, a Vanessa, acaba por tomar mais conta do Richard do que de mim.

Foi uma decisão difícil essa do Richard ficar consigo?

São perguntas complicadas. Eu penso que os filhos nasceram para estar com o pai e com a mãe. Mas quando o filho tem mais amor por uma pessoa, sente-se melhor com um dos dois, até porque eu sou uma pessoa que sempre dei muita atenção ao meu filho. Acho que a minha mulher ainda está naquela fase de se divertir e viver. Eu sou mais caseiro, “mais família”. Tudo isso reflectiu nessa decisão.

Que planos faz para 2010?

Lançar mais um CD, trabalhar mais no lado promocional. Acabei de ser contratado, no Brasil, para modelo fotográfico. Foi isso que me levou a “malhar” tanto no ginásio. Quero arranjar uma menina, uma namorada. E seguir projectos que estejam ligados à música e à família.

O novo disco já está pronto ou em fase de gravação?

Está em fase de composições ainda. Já tenho músicas muito lindas. O disco também já tem nome, Me Entrego Outra Vez, porque sou da opinião que por mais decepções que eu tenha, por mais que eu caia, ou tropece, por alguma paixão, vou sempre me entregar a uma nova relação com mais carinho, com mais amor e tenho que gostar dessa nova pessoa dez vezes mais. Decepcionei-me sim mas me entrego outra vez e acredito que há-de aparecer essa tal pessoa especial.

A paternidade mudou alguma coisa em si?

Sou um homem bem mais maduro e humano. Ter um filho é indescritível. Fez-me crescer e ter mais responsabilidades porque eu vivo com o meu filho e, portanto, tive de aprender a trocar fraldas, dar banho, pentear, fazer sopinhas. Para um homem isso é muita coisa. Tudo isso tornou-me um Kelly diferente. Até posso dizer que passei a ser mais romântico.

E o Richard é fã do Kelly?

O meu filho é o meu fã número 1. Na escolinha dele, na creche, sempre que tenho um show aviso. Ele, basta ver-me na TV, não sai dali por nada, canta todas as músicas. Sempre que componho, a primeira pessoa que canto é para ele. Se o Richard decorar o coro, eu sei que a música vai ser um sucesso e graças a Deus ele tem estado a decorar o coro de todas as músicas novas.

O que deseja para 2010?

Vou pedir a Deus que continue a iluminar porque eu já vou em 15 anos de carreira.

Por: Hadjalmar El Vaim Fotos: Sassy
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DUO OURO NEGRO: "RAUL E MILO"

 


A 4 de Junho de 2006, desaparecia a segunda metade do Duo Ouro Negro,um dos três nomes (os outros dois são Eusébio e Amália Rodrigues) que nos idos de sessenta lograram dar a conhecer Portugal aos quatro cantos do mundo. Apenas porque tinham qualidade, demasiada qualidade para ficarem restringidos a este pequeno rectângulo à beira-mar plantado, onde, já nesse tempo, a inveja e a mesquinhez reinantes eram incompatíveis com uma carreira nacional de grande sucesso. Por isso Raule Milo se fizeram à estrada, levando a sua música a ouvidos mais limpos e a mentes mais arejadas. Fizeram bem, até por usarem Portugal unicamente como trampolim. Afinal aquela música nada tinha a ver com o fado ou o folclore lusitano, e só por circunstâncias políticas da época se poderiam confundir.


Em Fevereiro de 1974, entrevistado por Regina Louro para a revista «Flama», Milo apontava, com algum sarcasmo, algumas razões para há muito tempo não actuarem em Portugal: «Quais são os artistas portugueses que têm actuado aqui? A verdade é que não há um sítio, uma casa de music-hall para cantarmos. Os teatros têm os seus elencos, os cinemas o que querem é vender filmes, a televisão contrata como vedetas cançonetistas que lá fora ficam num plano inferior a nós. Ao artista português mais não resta do que esperar pelo Verão para ir a feiras, festas na província, ou a um ou outro casino nas estâncias balneares. Fora desse período está condenado a uma carreira internacional».

UMA MIRAGEM

Houve um tempo, um tempo breve, em que pareceu que a música popular portuguesa podia ser assim: uma coisa intercontinental, afro-europeia e euro-africana, que pregava um estilo de vida dominado pela elegância e a alegria; atenta às mudanças do mundo e a cada uma das novas tendências internacionais; ecuménica, capaz de acolher no seu seio a memória do antigo reino dos Kwaniamas enquanto gerava luminosas versões de canções dos Beatles cantadas em português e acotovelava as grandes estrelas da época, como Eartha Kitt, Peter Ustinov, Maria Callas, Charles Aznavour ou Gina Lolobrigida. Houve um tempo em que o Duo Ouro Negro, que nasceu no sul de Angola na segunda metade da década de 50, de lá saíu como uma estrela cadente, para fazer escala em Lisboa antes de partir em direcção a outras e mais vibrantes constelações. Houve um tempo em que pareceu que Angola ia ser assim.
Sendo originalmente um trio, foi já como duo que Raul Indipwo e Milo MacMahon - então conhecidos ainda com os seus nomes lusitanos, Raul Aires Peres e Emílio Pereira – se tornaram conhecidos graças às suas espantosas harmonias vocais e a um domínio exímio da guitarra. A princípio projectavam apresentar um elenco do folclore angolano e das suas várias etnias e línguas. Mas a canção que foram estrear ao Cine-Teatro Restauração, em Luanda, e que se tornou o seu primeiro grande êxito, já havia excedido esses limites. No seu registo impressionista e misterioso, «Kurikutela», cujo nome significa «comboio» e celebra o veículo de ferro onde «Toda a gente leva pressa/ de chegar à sua terra/ Estão os parentes à espera» ainda hoje se dá a ouvir como um caso à parte.

Após o êxito conseguido na capital angolana chegam a Lisboa em 1959 pela mão do empresário cinematográfico Ribeiro Belga e, apesar da concorrência em voga no mundo da canção, conquistam em absoluto o público com actuações no Cinema Roma e no Casino Estoril, gravam três discos (inicialmente acompanhados pelo conjunto de Sivuca, depois pela orquestra de Joaquim Luís Gomes), passam pelos écrãs da RTP (onde nessa época se actuava sempre em directo) e regressam a Angola pouco antes do eclodir da guerra, em 1961. Até 1985, ano do falecimento de Milo (a 20 de Fevereiro), decorrerá então o período efervescente do Duo Ouro Negro, marcado por diversas fases e pela polarização do reportório (como todos, submetido à vigilância da censura prévia) entre os registos pop mais inanes e lustrosos de romantismo radiofónico, e outras canções que, não sendo de intervenção política, serão no mínimo de intervenção ideológica. O próprio ano de 1961, em que publicam «Garota» («...se eu beijar sua boca/ Deixará de ser garota/ Passará a ser mulher») e «Mãe Preta» (uma canção espantosa que fala da escravatura glosando a melodia do «Barco Negro» cantado por Amália) é um bom exemplo deste estado de coisas algo esquizóide: celebrados como verdadeiros ídolos em Angola – e ali impedidos pelo censores de interpretarem em palco parte do seu reportório – a presença mediática que conquistaram na metrópole fez com que aqui fossem olhados como um novo trunfo do regime, a garantia de que, apesar da guerra, a existência de um Portugal pluricontinental, como «muitas raças, um só povo» era um dado indesmentível.

O que não pode ser desmentido, porém, é que o verdadeiro trunfo do Duosempre foi a perspicácia e a actualidade da sua visão africanista, que também poderemos interpretar como uma fidelidade às origens. E isto apesar dos triunfos internacionais que lhes surgem pela frente logo na primeira metade dos anos 60, quando percorrem o norte da Europa e de lá regressam com versões em português dos Beatles («Agora Vou Ser Feliz», em 1964, com nova letra sobre a melodia de «I Wanna Hold Your Hand») e de Charles Aznavour («La Mamma») - antes ainda das actuações no Olympia parisiense (1965), das galas para os Príncipes do Mónaco (1966), do convite para o primeiro grande espectáculo televisivo da UNICEF e das primeiras actuações no Rio de Janeiro (1967). Estas últimas motivaram aliás nova explosão criativa, de início patente em temas como "Quando Cheguei ao Brasil": «Minha terra era Cabinda/ No Maiombe eu nasci/ Meu cantar era marimba/ Antes de vir para aqui// Quando cheguei ao Brasil/ Sem a minha liberdade/ Quando cheguei ao Brasil/ Tudo em mim era saudade». Era a celebração da diáspora africana, mas também o início do período afro-latino, que ao longo dos anos daria origem a temas como o espantoso «Moamba, Banana e Cola» (1969, com a orquestra de Jorge Leone), «Iemanjá» (1971), ou o encíclico «África Latina» (1979).
Comparativamente, a longa digressão pelo Extremo Oriente – a que o Duose remete na primeira metade dos anos 70, após a sua exibição na Expo de Tóquio – não parece ter deixado grandes marcas no reportório que praticavam. Mais do que a miragem do que o nosso passado comum poderia ter sido, é a história de uma miragem de futuro, também ela invulgar, e que pode sintetizar-se, afinal, em breves linhas: «Sou da África Latina/ Sou do século 21/ Nossa gente está por cima/ Todos juntos somos um». É a grande vantagem das canções.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012 0 comentários

Banda Calypso acusada de plagiar música de Anselmo Ralph

 

Luanda – A banda brasileira Calypso, que actualmente desfruta de sucesso no Brasil, plagiou a música “O quê é que adianta”, do músico angolano, Anselmo Ralph, supostamente sem consentimento deste.

O representante da produtora de Anselmo Ralph, Fernando Republicano, que falava à Angop depois de uma conferência de imprensa, referiu que o desconhecimento do plagiou, que já existe presumivelmente desde o mês de Setembro de 2011, só foi descoberto apenas no início deste ano.

Sem muitos detalhes, realçou que a LS Republicano vai simplesmente exigir do grupo brasileiro a divulgação pública de que a música é da autoria do angolano Anselmo Ralph, em respeito aos direitos de autor.

“Neste momento estamos a resolver a questão amigavelmente. Esperamos que a Banda Calypso dê a César o que de César”, salientou.

Advertiu que se o caso que envolve a produtora e a banda, formada pela cantora Joelma Mendes e pelo guitarrista e produtor Chimbinha, não for resolvido de forma amigável o mesmo será levado às instâncias judicias.

 

fonte: Angop

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Grupo Welwitschias Stars lança CD "Já não sou"

 

Grupo Welwitschias Stars

Grupo Welwitschias Stars

Luanda – O grupo musical Welwitschias Stars colocou hoje (domingo) à venda com sessão de autógrafos o seu primeiro single intitulado “Já não sou”, na Praça da Independência, em Luanda.

Em declarações à Angop, Mário Contreiras, director artístico da Mukanus Produções, informou ser um disco mais jovial, comportando os estilos zouk, tarrachinha e dance.

O director deu a conhecer que a obra teve várias fases na sua produção iniciada em Angola pela Mukanus e LS Produções.

“ Isto é um processo longo que vem sido amadurecido a mais de um ano e meio, começando com o programa televisivo, passou para fase final do casting com quatro raparigas e uma saiu em Novembro por opção própria” acrescentou Mário Contreiras.

Segundo o mesmo, o single das Welwitschias Stars não contou com a participação de nenhum nome sonante da música nacional e internacional.

“ Sendo elas já conhecidas pelo público, não poderiam e nem vão ter uma participação de cantores mesmo no Cd, porque este é o momento delas e o público está a espera de as ver com mais ninguém” realçou.

A obra está ser vendida a mil kwanzas e foram produzidas mais de 5 mil cópias, podendo os fãs adquiri-las nas várias casas de venda de discos.

Mário Contreiras manifestou a pretensão de levar a obra a outras províncias, de forma a que todos os fãs apreciem este primeiro produto.

O responsável disse ter havido um “feedback” grande por parte do público nas redes sociais e espera que os mesmos apreciadores compareçam e dêem o seu carinho ao grupo.

Welwitschias Stars é composto por três raparigas: Elisabeth Felipe, Ana Costa e Julma Neves.

 

fonte: Angop

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Cantora infantil lança 'Sónia 15 anos'

 

Luanda – A cantora infantil Sónia António lançará, em Março do ano em curso, o seu mais recente álbum discográfico intitulado “Sónia 15 anos”, informou hoje, segunda-feira, em Luanda, a cantora.

Sónia António, que falava à Angop a propósito do referido lançamento, disse tratar-se de uma remasterização das músicas que marcaram o seu sucesso ao longo de 15 anos de carreira artística.

Segundo a cantora, trata-se de 14 músicas, todas elas seleccionadas pelo “Fã club da Sónia”, composto por crianças e adultos que acompanham a sua trajectória ao longo desses anos todos.

“Eu até tinha um outro disco para ser lançado, mas os fãs pediram-me muito para que fizesse um relançamento das músicas mais aplaudidas. Trata-se apenas de um The Best”, disse.

Dentre os sucessos seleccionados para a presente obra destacam-se “Deus da vida”, “Professor”, “Uma Estrela”, “Natureza” e outros temas.

Sem precisar o número de cópias, a cantora avançou que o “Sónia 15 anos” foi produzido em Angola no estúdio Kriativa e editado em Portugal.

Ao fazer uma descrição sobre o mercado da música infantil no país, Sónia Antónia considerou que o mesmo carece de um relançamento e que tem havido algumas pessoas com ideias valiosas, mas sem grandes apoios para prosseguirem.

Por outro lado, a cantora referiu ainda que o importante não se restringe apenas em cantar para levar os menores a dançarem, mas cantar para educar o garante da nação angolana, as crianças.

Sónia António começou a cantar num concurso da Televisão Pública de Angola (TPA), onde foi descoberta pelos amantes da música infantil.

A cantora, também é um dos rostos mais respeitados da televisão em Angola, como apresentadora do programa infantil Carrossel.

 

fonte: Angop

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012 2 comentários

Jomo Fortunato - Pesquisador da música popular angolana

 

Jornalista e professor universitário

Os seus textos são publicados a cada segunda-feira no caderno de Cultura do Jornal de Angola (JA). A jornada que começou em 1996 aborda a música popular angolana desde 1945 à actualidade. O primeiro artigo publicado foi sobre o músico Carlos Lamartine e seguiram-se vários outros, entre os quais sobre a cantora Belita Palma e David Zé, referências da música nacional.


Profissional ligado à cultura, Jomo Fortunato é descendente de uma família religiosa, onde os hábitos culturais são “plantados” desde a infância.
O coordenador geral da Feira Internacional da Música e da Leitura engaja o seu tempo na valorização do livro e da cultura angolana na sua generalidade. Promoveu de 22 a 28 deste mês a V edição da Feira Internacional da Música e da Leitura, no Centro de Formação de Jornalistas (CEFOJOR), em Luanda. Uma ferramenta para a promoção e circulação do livro e do disco.
A Feira que visa estimular o gosto e o conhecimento das principais referências no domínio da literatura e música, no reforço do intercâmbio cultural e comercial entre editores, livreiros, músicos, distribuidores e expositores estrangeiros foi preenchida com um ciclo de palestras e debates.
“O advento do Kuduro na história da música angolana”, “As tecnologias de informação e o rendimento escolar”, “Problemática da leitura e da interpretação literária”, “Estúdios de gravação e produção discográfica”, “A cidadania, ética e moral no islão” e o “Impacto das indústrias culturais na economia da cultura” foram alguns dos temas abordados. Conheça o pioneiro da antologia da música popular angolana e saiba mais sobre a feira.

Para quando o lançamento da primeira antologia da música popular angolana?

Está prevista para o próximo ano. Estou a terminar uma pesquisa que começei em 1996. Pela quantidade de dados adquiridos, talvez sejam publicados mais de dois volumes. Sou pioneiro da antologia da música popular angolana. O primeiro texto publicado foi sobre o músico Carlos Lamartine, no Jornal de Angola. O livro incide basicamente sobre a música popular angolana de Luanda.

Na primeira pessoa

Natural da província de Luanda, durante a sua formação frequentou instituições de ensino no Huambo, Portugal e França. Mestre em Literatura Angolana, pela Universidade Agostinho Neto, Jomo Fortunato é licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, variante Português – francês, pela Universidade de Aveiro. Frequentou vários seminários e acções  de formação entre os quais “A recepção da Tradição Clássica”, “Pedagogie du texte Littéraire”, “Journées Pedagogiques pour L´ensignements du Français Langue Étrangére” e “La Chanson Française”. Professor universitário das disciplinas de Língua Portuguesa e Cultura e Literatura Angolana, nos cursos de comunicação Social da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto. É jornalista, apresentador e criador do programa, Vozes do Semba, da Televisão Pública de Angola . Assina as segundas-feiras, no Jornal de Angola, textos de investigação sobre música, literatura e teorização de assuntos culturais. Comentarista cultural da Rádio Nacional de Angola (RNA),  Jomo Fortunato actualmente é também assessor da ministra da cultura.


Quais são as suas fontes?

São os próprios artistas. O mais difícil é escrever a biografia dos artistas já falecidos, como foi o caso da Belita Palma e do David Zé. Do resto, pego no meu gravador e vou aos bairros ter com os músicos. Não podemos analisar a história da música popular sem analisar o espaço. Os seus temas estão relacionados com a vivência nos musseques e muito deles têm influências do campo. Há uma fase de acústica e de electrificação da música popular. O meu estudo se incide sobre a biografia dos artistas e das bandas musicais.


O que acha do facto de músicos da nova geração interpretarem musicas antigas?

Retornar ao passado da arte, politica e história é uma prática normal em qualquer sociedade. É sinónimo de desenvolvimento da arte. Uns fazem bem outros fazem mal. Infelizmente em Angola a maior parte faz mal. Não sabem as línguas nacionais e confundem as palavras.

É conhecido como critico de música , quem lhe atribuiu este título?


Foi a imprensa. Devido aos artigos que escrevo no Jornal de Angola sobre a historia da música popular angolana. Há 15 anos que eu me empenho nesse trabalho. Fiquei conhecido por causa da escrita. Mas nos artigos que publico semanalmente no Jornal de Angola não assino como crítico da música nem da literatura
Que balanço faz da V edição da Feira Internacional da Música e da Leitura?

O balanço só pode ser positivo. Estamos na V edição e já criou marca, ou seja, os expositores, editores, músicos e livreiros já conhecem a feira. Nesta edição tivemos cerca de mil visitantes por dia. É claro que a intenção é sempre aumentar o número de visitantes, mas creio que cumprimos com o nosso objectivo, que é promover a leitura e a música, concentrar num só espaço o livro e o disco e fazer com que os interessados tenham oportunidade de negócio. A ArteViva faz o seu papel.


A editora ArteViva está presente na Feira desde a sua criação?

Sim. O conceito é nosso. É uma feira privada de interesse público. Nós, ArteViva, somos os pioneiros na valorização dos alfarrabistas. Colocamos no mesmo espaço estes livreiro que vendem na rua, com a mesma dignidade em relação aos demais. Portanto, é um novo conceito entre nós porque juntamos ao livro e ao disco outras actividades, entre as quais: concertos, palestras, teatro, cinema e assinatura de autógrafo. A grande novidade para a próxima edição será um maior engajamento dos expositores, livreiros e produtores na definição da programação cultural da feira.

O ciclo de palestras e debates são já uma referência?

Sim. Normalmente convidamos figuras proeminentes da sociedade, que são interessadas na arte e abordam questões ligadas ao livro. As palestras estão relacionadas com o livro e o disco, produção discográficas, direitos autorais. “As novas tecnologias e o rendimento escolar” e “Fruição da cultura na formação da personalidade humana”, foram alguns dos temas debatidos.

O espaço do Ceforjor ainda é o ideal para a feira?


O espaço já se está a tornar exíguo. Mas achamos que até agora o Ceforjor continua a nos dar garantias, quer de segurança, quer de localização. Este espaço situa-se entre várias escolas, o que para nós é vantajoso. O público alvo são os jovens, em particular os estudantes universitários. Temos tido uma boa adesão, mas creio que devemos fazer uma maior divulgação nas universidades. Este ano o programa foi distribuído nas principais universidades de Luanda, mas vamos tentar fazer este trabalho de forma muito mais atempada e encontrar outros mecanismos para articular a feira e a direcção das universidades.

Um dos seus focos é melhorar o conhecimento dos jovens com tendências para a literatura...

Eu fui director do Instituto Nacional do Livro e do Disco (INALD) e durante este tempo dei o meu melhor para que a promoção da leitura e da divulgação do livro se efectivasse. Sempre que possível, mesmo fora do âmbito da editora, vamos fazendo actividades que visam a valorização do livro e da cultura angolana na sua generalidade. Temos que encontrar estratégias, a feira é uma delas. Portanto, é uma instância no ciclo de comunicação literária que recai sobre o leitor. Essa actividade não pode ser isolada. Temos que articular com outras instituições como é o caso dos ministérios da Cultura, Educação e da Industria. É uma acção de toda a sociedade.


A sua forte ligação com a cultura é uma opção?

É de família. Cresci num ambiente musical, pela via da religião. Tenho um irmão que é cantor e vai ser homenageado na próxima edição do Festival da LAC (...). Engraçado, tenho o curso médio de Construção Civil, feito no Huambo e durante a formação o meus professores da área das letras diziam que eu não estava a fazer nada no curso de Construção Civil e que devia optar por um outro curso. No superior fiz o curso de Línguas e Literatura moderna.

É um dos júris do concurso musical da TPA2, Angola Encanta. O método de avaliação do júri foi contestado por muita gente, que acha?

Eu fui convidado a fazer parte da equipa de júris do concurso Angola Encanta e tem sido uma experiência muito interessante, embora eu já tenha feito parte do júri de vários outros concursos. As pessoas têm criticado, mas devem ter em conta que o comportamento dos meus colegas é feito na perspectiva da espectacularidade televisiva. Nós não temos intenção de denegrir ou humilhar qualquer um dos participantes. Agregamos a isso a perspectiva humorística, daí a audiência do programa. Fizemos o nosso trabalho. Foram doze seleccionados entre três mil candidatos.


Perfil 
Nome Completo: Jomo Francisco Isabel de Carvalho Fortunato 
Naturalidade: Luanda 
Data de Nascimento: 28 de Março 1971 
Estado Civil: Casado 
Filhos: Quatro 
Cartão Postal: Veneza 
Um escritor: Dostoiévski 
Um livro:  Tenho lido muito sobre gestão cultural

fonte: O País
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Sanguito o sopro telúrico do saxofone

Jomo Fortunato | - 14 de Dezembro, 2009


A solo, Sanguito tenta dar continuidade aos sopristas dos anos setenta
Fotografia: Divulgação

Estranho às origens acústicas e percutivas da Música Popular Angolana, o saxofone e a classe dos aerofones, tiveram, fundamentalmente, a Casa dos Rapazes de Luanda, a catequese missionária, a Casa Pia e a generalidade das instituições de caridade, como principais divulgadores e incentivadores de ensino. 
A história dos aerofones regista os nomes de Toni de Almeida (trombone de vara), Fenando Nunes ( Nando Tambarino, trompete) e Nelo Duarte (saxofone alto) que, em 1964, formam “Os gansos”- uma pequena formação que interpretava música variada. 
Nelo Duarte, falecido num acidente de viação em 1975, é um dos saxofonistas angolanos mais representativos da geração dos anos sessenta, que marcou o seu timbre nos Gambuzinos- agrupamento que fundia ritmos de base angolana, com vertentes da música pop/rock. 
No entanto, a par dos Gambuzinos, surgiu, em 1973, o África Show, do emblemático José Massano Júnior, com Fernando Nunes (Nando Tambarino), e o conjunto Águias Reais, com Quental e Manuel António (saxofone alto), duas formações que introduzem, pela primeira vez, instrumentos de sopro com alguma vitalidade melódica. 
Massy (dos Jovens do Prenda), Nanutu (saxofone alto e barítono) e Manuel Bernardo Sangue (Sanguito) são os actuais resistentes, cujo contributo reconhece-se pela resoluta e meritória adaptação dos múltiplos géneros e tendências do sopro à música angolana. 

O percurso



A solo, Sanguito tenta, numa linha de reconhecido talento e pesquisa, dar continuidade à obra dos sopristas dos anos sessenta. Nascido no dia 6 de Abril de 1960, na província do Bengo, mais propriamente em Quixico, Nambuangongo, Sanguito é orfão de guerra, tendo sido encontrado, pelas tropas coloniais portuguesas, nas matas de Muxaluando, depois de um ataque às bases do MPLA, em 1961, numa acção militar que culminou com a morte dos seus pais e familiares mais próximos. 
Internado no Abrigo dos Pequeninos, em Luanda, sob cuidado de madres católicas, Sanguito foi transferido, quatro anos depois, para a Casa dos Rapazes de Luanda, onde teve o primeiro contacto com a guitarra e a requinta, um instrumento de sopro da família dos clarinetes que possui uma sonoridade mais estridente e aguda, dois traços distintivos em relação ao clarinete. 
Em 1977, Sanguito frequenta um curso de instrutor, na Academia de Música de Luanda, onde aprende a tocar saxofone (alto, tenor, soprano e barítono), incluindo trompete e piano, com o professor Fernando Nunes. 
Sanguito fez parte, em 1981, do agrupamento musical “Petro Clave”. Neste mesmo ano, muda-se para o agrupamento musical “Os merengues” e, em 1982, passa pelo agrupamento “Semba Tropical”. Com esta formação representou Angola em vários festivais de música na Europa e América, visitando alguns países africanos. Depois de uma passagem efémera pela banda Semba África, Sanguito emigra, em 1993, para Portugal com o objectivo de continuar os seus estudos no domínio da música clássica, jazz e harmonia. 
Em Portugal alinha com os Karapinha, Kussondolola, Semba Master, General D e Bonga, chegando a colaborar com músicos angolanos e estrangeiros. Nesta altura, aproveitando a oportunidade de estar mais próximo de músicos profissionais, grava o seu primeiro álbum, “Lente Vida”, em 1997, com 10 temas instrumentais.
 
“Ngueza”, o segundo álbum

No CD “Ngueza”, gravado em 2002, Sanguito acusa uma visível evolução a nível da pesquisa de ritmos de motivação carnavalesca, revisitando temas clássicos da música angolana, “Colonial” do Ngola Ritmos foi um exemplo, ritmos do Congo Democrático, da America Latina, revelando nítidas influências do caboverdiano Luís Morais e do norte-americano Grove Washington. “Ngueza” teve ainda a participação especial dos percussionistas Tolingas e Kituxe, da guitarra de Justino Delgado, do contrabaixo de Salomas, e das vozes de Beto de Almeida, Flay, Jeff Brown e Yannick. 

“Kamba diami”, o novo álbum

Em Kamba diami”, um CD integralmente instrumental, Sanguito está mais próximo das sonoridades angolanas, preferindo, a dado momento, um olhar retrospectivo ao seu passado, revisitando, em GV, o tema “Minga”, do emblemático José Massano Júnior e “Rosa Maria”, de Urbano de Castro. Gravado num longo período de intermitências involuntárias (2004 a 2009), o novo trabalho discográfico de Sanguito, alterna entre os géneros semba e kipalanga, e ostenta os arranjos do DJ Mania, Calô Pascoal, Carlitos Tchiemba e Alton ventura, nos temas “Rosa Maria”, “Rosa para Rosa”, “Cocó” (um clássico do Franco, TP OK, jazz) e “Viragem zero”, respectivamente. 
Neste seu mais recente álbum, Sanguito procurou demonstrar, com inequívoco sucesso, que é possível gravar, maioritariamente, com músicos angolanos. Ao longo do alinhamento dos onze temas do CD é possível discernir a qualidade de execução de Boto Trindade, Alex Samba, Ximbinha, Brando, Zeca Tirylene, John Fonseca e Jorge Cervantes (guitarras), Carlos Tchiemba, Mias Galheta e Benjamim (baixo), Dinho Silva, Nando e Lito Graça (bateria), Rufino Cipriano, Alton Ventura, e Calô Pascoal (teclas), Joãozinho Morgado, Dalú Roger, Chico Santos e Gato (pecussão), músicos de referência incontornável no actual panorama da música angolana.

fonte: Jornal de Angola
 
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