sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Jomo Fortunato - Pesquisador da música popular angolana

 

Jornalista e professor universitário

Os seus textos são publicados a cada segunda-feira no caderno de Cultura do Jornal de Angola (JA). A jornada que começou em 1996 aborda a música popular angolana desde 1945 à actualidade. O primeiro artigo publicado foi sobre o músico Carlos Lamartine e seguiram-se vários outros, entre os quais sobre a cantora Belita Palma e David Zé, referências da música nacional.


Profissional ligado à cultura, Jomo Fortunato é descendente de uma família religiosa, onde os hábitos culturais são “plantados” desde a infância.
O coordenador geral da Feira Internacional da Música e da Leitura engaja o seu tempo na valorização do livro e da cultura angolana na sua generalidade. Promoveu de 22 a 28 deste mês a V edição da Feira Internacional da Música e da Leitura, no Centro de Formação de Jornalistas (CEFOJOR), em Luanda. Uma ferramenta para a promoção e circulação do livro e do disco.
A Feira que visa estimular o gosto e o conhecimento das principais referências no domínio da literatura e música, no reforço do intercâmbio cultural e comercial entre editores, livreiros, músicos, distribuidores e expositores estrangeiros foi preenchida com um ciclo de palestras e debates.
“O advento do Kuduro na história da música angolana”, “As tecnologias de informação e o rendimento escolar”, “Problemática da leitura e da interpretação literária”, “Estúdios de gravação e produção discográfica”, “A cidadania, ética e moral no islão” e o “Impacto das indústrias culturais na economia da cultura” foram alguns dos temas abordados. Conheça o pioneiro da antologia da música popular angolana e saiba mais sobre a feira.

Para quando o lançamento da primeira antologia da música popular angolana?

Está prevista para o próximo ano. Estou a terminar uma pesquisa que começei em 1996. Pela quantidade de dados adquiridos, talvez sejam publicados mais de dois volumes. Sou pioneiro da antologia da música popular angolana. O primeiro texto publicado foi sobre o músico Carlos Lamartine, no Jornal de Angola. O livro incide basicamente sobre a música popular angolana de Luanda.

Na primeira pessoa

Natural da província de Luanda, durante a sua formação frequentou instituições de ensino no Huambo, Portugal e França. Mestre em Literatura Angolana, pela Universidade Agostinho Neto, Jomo Fortunato é licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, variante Português – francês, pela Universidade de Aveiro. Frequentou vários seminários e acções  de formação entre os quais “A recepção da Tradição Clássica”, “Pedagogie du texte Littéraire”, “Journées Pedagogiques pour L´ensignements du Français Langue Étrangére” e “La Chanson Française”. Professor universitário das disciplinas de Língua Portuguesa e Cultura e Literatura Angolana, nos cursos de comunicação Social da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto. É jornalista, apresentador e criador do programa, Vozes do Semba, da Televisão Pública de Angola . Assina as segundas-feiras, no Jornal de Angola, textos de investigação sobre música, literatura e teorização de assuntos culturais. Comentarista cultural da Rádio Nacional de Angola (RNA),  Jomo Fortunato actualmente é também assessor da ministra da cultura.


Quais são as suas fontes?

São os próprios artistas. O mais difícil é escrever a biografia dos artistas já falecidos, como foi o caso da Belita Palma e do David Zé. Do resto, pego no meu gravador e vou aos bairros ter com os músicos. Não podemos analisar a história da música popular sem analisar o espaço. Os seus temas estão relacionados com a vivência nos musseques e muito deles têm influências do campo. Há uma fase de acústica e de electrificação da música popular. O meu estudo se incide sobre a biografia dos artistas e das bandas musicais.


O que acha do facto de músicos da nova geração interpretarem musicas antigas?

Retornar ao passado da arte, politica e história é uma prática normal em qualquer sociedade. É sinónimo de desenvolvimento da arte. Uns fazem bem outros fazem mal. Infelizmente em Angola a maior parte faz mal. Não sabem as línguas nacionais e confundem as palavras.

É conhecido como critico de música , quem lhe atribuiu este título?


Foi a imprensa. Devido aos artigos que escrevo no Jornal de Angola sobre a historia da música popular angolana. Há 15 anos que eu me empenho nesse trabalho. Fiquei conhecido por causa da escrita. Mas nos artigos que publico semanalmente no Jornal de Angola não assino como crítico da música nem da literatura
Que balanço faz da V edição da Feira Internacional da Música e da Leitura?

O balanço só pode ser positivo. Estamos na V edição e já criou marca, ou seja, os expositores, editores, músicos e livreiros já conhecem a feira. Nesta edição tivemos cerca de mil visitantes por dia. É claro que a intenção é sempre aumentar o número de visitantes, mas creio que cumprimos com o nosso objectivo, que é promover a leitura e a música, concentrar num só espaço o livro e o disco e fazer com que os interessados tenham oportunidade de negócio. A ArteViva faz o seu papel.


A editora ArteViva está presente na Feira desde a sua criação?

Sim. O conceito é nosso. É uma feira privada de interesse público. Nós, ArteViva, somos os pioneiros na valorização dos alfarrabistas. Colocamos no mesmo espaço estes livreiro que vendem na rua, com a mesma dignidade em relação aos demais. Portanto, é um novo conceito entre nós porque juntamos ao livro e ao disco outras actividades, entre as quais: concertos, palestras, teatro, cinema e assinatura de autógrafo. A grande novidade para a próxima edição será um maior engajamento dos expositores, livreiros e produtores na definição da programação cultural da feira.

O ciclo de palestras e debates são já uma referência?

Sim. Normalmente convidamos figuras proeminentes da sociedade, que são interessadas na arte e abordam questões ligadas ao livro. As palestras estão relacionadas com o livro e o disco, produção discográficas, direitos autorais. “As novas tecnologias e o rendimento escolar” e “Fruição da cultura na formação da personalidade humana”, foram alguns dos temas debatidos.

O espaço do Ceforjor ainda é o ideal para a feira?


O espaço já se está a tornar exíguo. Mas achamos que até agora o Ceforjor continua a nos dar garantias, quer de segurança, quer de localização. Este espaço situa-se entre várias escolas, o que para nós é vantajoso. O público alvo são os jovens, em particular os estudantes universitários. Temos tido uma boa adesão, mas creio que devemos fazer uma maior divulgação nas universidades. Este ano o programa foi distribuído nas principais universidades de Luanda, mas vamos tentar fazer este trabalho de forma muito mais atempada e encontrar outros mecanismos para articular a feira e a direcção das universidades.

Um dos seus focos é melhorar o conhecimento dos jovens com tendências para a literatura...

Eu fui director do Instituto Nacional do Livro e do Disco (INALD) e durante este tempo dei o meu melhor para que a promoção da leitura e da divulgação do livro se efectivasse. Sempre que possível, mesmo fora do âmbito da editora, vamos fazendo actividades que visam a valorização do livro e da cultura angolana na sua generalidade. Temos que encontrar estratégias, a feira é uma delas. Portanto, é uma instância no ciclo de comunicação literária que recai sobre o leitor. Essa actividade não pode ser isolada. Temos que articular com outras instituições como é o caso dos ministérios da Cultura, Educação e da Industria. É uma acção de toda a sociedade.


A sua forte ligação com a cultura é uma opção?

É de família. Cresci num ambiente musical, pela via da religião. Tenho um irmão que é cantor e vai ser homenageado na próxima edição do Festival da LAC (...). Engraçado, tenho o curso médio de Construção Civil, feito no Huambo e durante a formação o meus professores da área das letras diziam que eu não estava a fazer nada no curso de Construção Civil e que devia optar por um outro curso. No superior fiz o curso de Línguas e Literatura moderna.

É um dos júris do concurso musical da TPA2, Angola Encanta. O método de avaliação do júri foi contestado por muita gente, que acha?

Eu fui convidado a fazer parte da equipa de júris do concurso Angola Encanta e tem sido uma experiência muito interessante, embora eu já tenha feito parte do júri de vários outros concursos. As pessoas têm criticado, mas devem ter em conta que o comportamento dos meus colegas é feito na perspectiva da espectacularidade televisiva. Nós não temos intenção de denegrir ou humilhar qualquer um dos participantes. Agregamos a isso a perspectiva humorística, daí a audiência do programa. Fizemos o nosso trabalho. Foram doze seleccionados entre três mil candidatos.


Perfil 
Nome Completo: Jomo Francisco Isabel de Carvalho Fortunato 
Naturalidade: Luanda 
Data de Nascimento: 28 de Março 1971 
Estado Civil: Casado 
Filhos: Quatro 
Cartão Postal: Veneza 
Um escritor: Dostoiévski 
Um livro:  Tenho lido muito sobre gestão cultural

fonte: O País

2 comentários:

Cautingo ngo disse...

Olá Fortunato Paz e bem!
Tenho acompanhado a tua dedicação na valorização da cultura Angolana.
Num debate do programa da Mara Dalva, quando referias a música:"não devemos só nos concentrar no SEMBA, porque Angola tem vários estilos músicais que deveriam ser bem aproveitado para enriquecer a nossa cultura"...
Essas e outras palavras que tem dado brilho a nossa economia criativa...
Coragem no bem.
Aqui fala o músico Kautingo.

arteespacoisartes disse...

o espaço em questão esta muito vago, penso que deveria trazer mais informações sobre a musica popular angolana, como vida e obra de artistas que fizeram e fazem a musica angolana, e a importância das novas tecnologias de informação na nossa musica propriamente no fator do tradicionalismo ao contemporâneo.

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