sábado, 18 de fevereiro de 2012

Kelly Silva, um incorrigível romântico

Cantor romântico, ex-bailarino dos lambada do kinaxixi


Quando o semba e o kizomba eram os estilos dominantes no panorama musical, Kelly Silva, 28 anos, apostou num estilo original. Inspirado por músicos brasileiros como Leonardo, o seu cantor favorito, Alexandre Pires, algumas duplas sertanejas e, essencialmente, pela MPB (Música Popular Brasileira), o romântico incorrigível, que é como ele próprio se define, deu início a uma carreira que apaixonou vários corações.

Sucessos como “Laura”, “Interfone”, “Por Causa Dela”, “Diz Para Mim”, “Miradouro”, “História do Angolano”, “Litito” e “Por amor” marcam a sua carreira. Hoje um dos cantores mais queridos das mulheres angolanas procura conciliar os estudos (está no primeiro ano de Gestão de Empresas) e as gravações do seu próximo álbum.
Nesta entrevista, o pioneiro dos cantores românticos, fala-nos sobre as desilusões amorosas que o inspiraram a escrever as suas mais célebres canções e dá-nos a conhecer os planos para o futuro.

15 anos de carreira. Sente-se orgulhoso de tudo o que alcançou até aqui?

Muito, muito mesmo. O mais difícil foi ser aceite no mercado. Na altura, a música romântica era desvalorizada.  Sofri muito por isso. Fui logo conotado como gay. Quem cantava músicas românticas passava a ser visto dessa forma. Senti na pele todo o tipo de preconceitos. Com o tempo consegui impor o romantismo como estilo que hoje é respeitado pelos angolanos. Nada foi em vão, houve algo de muito positivo no meu trabalho.

Sente-se um pioneiro?


Sim. Conheci gente maravilhosa, fiz novas amizades e abri as portas para todos os cantores que surgiram depois de mim, para que não tivessem que enfrentar o mesmo tipo de preconceitos e barreiras do que eu. No meio de tudo isso ainda consegui fazer o mais difícil que foi manter o meu nome e a qualidade do meu trabalho porque a fama pode ser conseguida da noite para o dia mas também pode fugir de nós em segundos. Nesse sentido, sinto-me orgulhoso porque sempre soube conviver com a fama e com os fãs.


Um percurso admirável que teve início como bailarino do Lambada do Kinaxixi...

Já naquela altura queria muito a música mas também tinha uma paixão muito grande pela dança. Um dia vi o grupo Lambada do Kinaxixi a passar debaixo do meu prédio à procura de um espaço para ensaiar e eu disse-lhes que tinha o lugar certo para eles. Era no terraço do prédio da Cuca, onde nasci. Integravam na altura o grupo, o Duxa da Cabral Moncada, o Menezes, Monjó que hoje é o treinador e presidente do grupo, o Toni Mena, a “loira burra” como nós chamávamos, que era a irmã da Mizé, a Celma, a Detinha, a falecida São. Já era aquele grupo forte dos Lambada do kinaxixi. Foi uma época bonita da minha vida.

Que recordações tem dessa altura bonita?

Eu tinha apenas treze anos. Mas gostava muito de uma menina que já tinha 18 anos. Chamava-se Nina. Recordo também que era a revelação do grupo porque ser o mais pequeno a dançar lambada. Ganhámos muitos concursos. Quatro meses depois já dançava ao lado dos mais velhos e fazia actuações em discotecas. Uma das casas até era de um tio meu, o Bingo. Como não era autorizada a entrada de crianças eu tinha de dançar e depois ir para o escritório do meu tio onde ficava fechado. O Wilson Verdades, que também é meu tio, sabia de tudo. Mas se o Gegé soubesse que eu dançava na discoteca dele, ia contar ao meu pai. Então eu tinha que dançar sempre que o Gegé não estivesse na discoteca. Quando ele estava, dançava disfarçado para ele não se aperceber. [Risos]

Como foi a transição da dança, com os Lambada do Kinaxixi, para a música?

Eu passei a ganhar alguma atenção. Arrisco a dizer que estive entre os melhores da dança em Angola. Fiz comerciais de dança até que conheci o Rey Webba e o Arnaldo. Um dia eu vi o Arnaldo em cima de um jipe UMM a cantar músicas do Leandro e Leonardo e disse que também gostava de cantar. Quando começámos a cantar, um amigo disse que fazíamos uma dupla muito bonita. Assim nasceu “Kelly e Arnaldo”. Juntos gravamos “Jamais Terá Fim”, um grande sucesso  que o público baptizou como “Meu Amor”.

Como foi o primeiro show?

A primeira casa em que cantámos foi o Balumuka e as pessoas gostaram muito. Conhecemos o Marcos Pereira, da LR Produções, que passou a ser o presidente do Lambada do Kinaxixi e me convidou para trabalhar com ele. Todos da minha banda abandonaram o barco. Fiquei apenas eu, a Zuraya Pote, a Jurema e a Detinha. Depois elas também desistiram. Sozinho, acabei por ser convidado pelos irmãos Almeida a subir ao palco numa das suas actuações. Na hora do show o Beto de Almeida disse “há um menino aqui que canta muito bem. Vamos chamá-lo para cantar…”. Todo o mundo na sala, eu incluído, ficou à espera de quem seria. Quando ele disse: “Aquele puto, o Kelly da Lambada”. E, de seguida, o Nelo Paim abandonou o piano e disse “Kelly toca”. Eu fiquei sem saber o que fazer! As pernas começaram a tremer. Eu era bailarino, nunca tinha estado num palco a sério como cantor. Mas foi uma coisa linda de que nunca me vou esquecer. O Boavida Neto foi ter comigo e deu-me os parabéns. Foi das coisas que me tocou. Então eu decidi nunca mais parar.

Como surgiu o Kelly Silva?

Depois daquela actuação eu conheci o Rey Webba e cheguei a fazer parte de uma banda do Miami, os Miami Voice. Aí eu ganhei destaque novamente e a banda passou a ser chamada de “Kelly Silva e os Miami Voice”. O nome Kelly Silva foi-me atribuído pelo Kayaya Jr. nessa altura.

Quando veio o primeiro CD?

Depois de conhecer o Afonso Quintas, as minhas músicas começaram a tocar na rádio, comecei a fazer shows nas províncias, apresentei o karaoke no Karl Marx e, com o tempo, apareceu a oportunidade de gravar um CD. O Beto Max, foi o meu produtor. A música “Laura” e o tema “Sempre Assim”, estoiraram nessa altura e eu ganhei o prémio “Voz Revelação” no Top Rádio Luanda. Em 2004, fui gravar para o Brasil. Com a música “Por Causa Dela” obtive o quarto lugar do “Top dos Mais Queridos”. Com a Efective Eventos gravei o CD História de um Angolano que incluia o tema “Por Você”, que foi a música romântica do ano. Agora só me resta torcer para que o Me Entrego Outra Vez mantenha esse nível.

E a dança. Ficou para trás?

Não, volta e meia faço reciclagens com o grupo Lambada do Kinaxixi. Dou aulas em colégios e este ano quero mostrar um bocado mais de coreografias e do Kelly dançante. Aliás sendo que estamos em 2010, eu vou vestir a camisola 10 este ano. Vou ser 10 em tudo. Ser 10 num novo amor, ser 10 como pai, ser 10 para com os meus amigos e ser 10 na minha carreira. [risos]

Nota-se que melhorou a sua condição física...

Um amigo que também é cantor, o Action Nigga incentivou-me a ir ao ginásio. Disse-me que eu era muito magro e que devia apostar no ginásio. Segui o conselho dele e isso deu-me uma auto- -estima sem igual. O pessoal começou a comentar que eu estava a ficar muito bonito. Agora tornou-se um vício e não consigo ficar sem ir. Quando viajo e fico algum tempo sem ir ao ginásio, faço 400 a 500 flexões todos os dias e 100 a 200 abdominais É um vício. Faz-me bem. Olho para o espelho e sinto-me bem.

Quantas vezes por semana vai ao ginásio?

Ia duas vezes por dia, mas agora diminui porque o meu personal trainer diz que não é bom e que o excesso de exercício pode causar fadiga muscular. Então vou uma vez por dia ao ginásio. Para mim é um terror não ir ao ginásio.

Separou-se recentemente. Quer contar-nos a sua grande desilusão amorosa?


Penso que é algo que todos já vivemos um dia. Pensamos ter encontrado o amor certo para a nossa vida e, de repente, apercebemo-nos que era tudo uma fantasia, um castelo de areia. Quando um amor é mal consolidado desde o princípio acaba por desmoronar. Foram cinco anos de amor e um ano de decepção terrível.


Como foi que vocês se conheceram?

Foi na escola. Éramos colegas de turma e ela entrou para à sala. Foi amor à primeira vista. Na minha escola havia um concurso em que as alunas da escola queriam ver quem é que ia namorar comigo. Perguntaram-lhe se não queria participar e ela foi a única que não quis. Para má sorte das minhas colegas naquela altura, ela é que começou a namorar comigo. Toda a gente ficou revoltada a dizer que ela se tinha armado que não queria nada comigo e afinal… Mas não, foi algo espontâneo. Eu estava a estudar, ela entrou para sala, muito linda, e aquilo foi na hora! No dia seguinte ela escreveu no quadro que estava a precisar de amigos e estava aberta a amizades, deixou o número de telefone no quadro. Eu tinha um show em Benguela no dia seguinte. Tirei o número de telefone e à meia-noite, estava já no Sumbe, liguei para ela, conversámos um bocadinho. Em Benguela tornei a ligar. Depois começámos a namorar. Posso dizer que vivi momentos muito lindos ao lado dela.

O que levou esse castelo a desmoronar?

Isso acontece quando não existe verdade e, o mais importante, confiança. Perdemos aquele sentimento e a relação já não é a mesma. Então preferimos nos separar.

Neste momento está à procura de alguém?

Estou praticamente separado. No dia dos namorados isso vai fazer um ano. Por esse motivo, o dia dos namorados para mim é um dia terrível. Hoje estou aberto a relacionamentos novos. Acredito que a qualquer momento há-de tocar. Eu hei-de apaixonar-me. Tanto eu como o Richard precisamos de uma mulher nas nossas vidas.

Então está à procura de uma namorada?

Estou. Está na hora, o corpo sente necessidade disso.

Que qualidades procura numa rapariga?

A sinceridade é o mais importante. Tem que ser muito honesta. Tem que amar o meu filho e ser apaixonada por mim. Afinal somos dois solteiros em casa. Tem que compreender o meu lado enquanto músico. Alguém que gosta de mim e não apenas do Kelly Silva. A fama faz com que as pessoas confundam os seus sentimentos.

Vive com o seu filho?

Sim. Ele é o meu companheiro de guerra. Viajamos muito juntos. Muitas das vezes a minha manager, a Vanessa, acaba por tomar mais conta do Richard do que de mim.

Foi uma decisão difícil essa do Richard ficar consigo?

São perguntas complicadas. Eu penso que os filhos nasceram para estar com o pai e com a mãe. Mas quando o filho tem mais amor por uma pessoa, sente-se melhor com um dos dois, até porque eu sou uma pessoa que sempre dei muita atenção ao meu filho. Acho que a minha mulher ainda está naquela fase de se divertir e viver. Eu sou mais caseiro, “mais família”. Tudo isso reflectiu nessa decisão.

Que planos faz para 2010?

Lançar mais um CD, trabalhar mais no lado promocional. Acabei de ser contratado, no Brasil, para modelo fotográfico. Foi isso que me levou a “malhar” tanto no ginásio. Quero arranjar uma menina, uma namorada. E seguir projectos que estejam ligados à música e à família.

O novo disco já está pronto ou em fase de gravação?

Está em fase de composições ainda. Já tenho músicas muito lindas. O disco também já tem nome, Me Entrego Outra Vez, porque sou da opinião que por mais decepções que eu tenha, por mais que eu caia, ou tropece, por alguma paixão, vou sempre me entregar a uma nova relação com mais carinho, com mais amor e tenho que gostar dessa nova pessoa dez vezes mais. Decepcionei-me sim mas me entrego outra vez e acredito que há-de aparecer essa tal pessoa especial.

A paternidade mudou alguma coisa em si?

Sou um homem bem mais maduro e humano. Ter um filho é indescritível. Fez-me crescer e ter mais responsabilidades porque eu vivo com o meu filho e, portanto, tive de aprender a trocar fraldas, dar banho, pentear, fazer sopinhas. Para um homem isso é muita coisa. Tudo isso tornou-me um Kelly diferente. Até posso dizer que passei a ser mais romântico.

E o Richard é fã do Kelly?

O meu filho é o meu fã número 1. Na escolinha dele, na creche, sempre que tenho um show aviso. Ele, basta ver-me na TV, não sai dali por nada, canta todas as músicas. Sempre que componho, a primeira pessoa que canto é para ele. Se o Richard decorar o coro, eu sei que a música vai ser um sucesso e graças a Deus ele tem estado a decorar o coro de todas as músicas novas.

O que deseja para 2010?

Vou pedir a Deus que continue a iluminar porque eu já vou em 15 anos de carreira.

Por: Hadjalmar El Vaim Fotos: Sassy

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