Elias Diá Kimuezo
Músico, compositor e produtor
Consagrado o rei da Música angolana, pelo Centro de informação e Turismo de angola (CiTa), Elias Diá Kimuezo destaca-se pela forma natural de cantar na língua nacional, kimbundo. O novo disco e o The Best of já estão na forja.
Um verdadeiro “rei”. Cortês e muito educado, Elias Diá Kimuezo recebeu-nos em sua casa, na rua n.º 26 do projecto Nova Vida com pompa e circunstância. Na companhia da esposa, acomodou a nossa reportagem entre sorrisos e “mimos” durante a entrevista e na visita guiada a sua casa. No final, não faltou o caprichado almoço, mesmo à moda angolana.
Os anos parecem não passar pelo “soberano”. Aos setenta e cinco anos – idade de diamante - completados no passado dia 2 de Janeiro apresenta-se num postura firme e voz activa em conversa animada entre memórias e muitas risadas. A promessa de lançar brevemente, o seu o novo disco e o The best of será cumprida.
“Em breve lançarei um disco duplo. Uma colectânea das minhas melhores músicas e um novo álbum”, disse Elias Diá Kimuezo, o rei da música angolana.
Sobre a nova obra discográfica, o rei preferiu não avançar muito, mas deixou a promessa de que o projecto vai “agradar a gregos e a troianos”.
“Vou continuar a cantar nos estilos semba, rumba e bolero que é o que me caracteriza”, disse o rei.
Em breve lançarei um disco duplo. Uma colectânea das melhores músicas e um novo álbum.
Elias Diá Kimuezo ou “Elias das barbas” pseudónimo atribuído enquanto jovem, pelo facto de ter usado uma enorme barba. Mas após o regresso dos “Manos Cambutas” que eram os guerrilheiros dos Maquis, Elias foi obrigado a cortá-la devido as várias perseguições dos portugueses, na era colonial.
O rei é uma autêntica fonte de informação e referência da história da música angolana, pelos conteúdos interventivos (na luta pela independência). O ancião já residiu em vários bairros de Luanda: Marçal, Sambizanga, Rangel, Cassequel e agora Kilamba kiaxi.
O seu primeiro sucesso popular foi a música “Zum- -Zum”, que de forma irónica retratava a história de uma casal que criava um cão e um pássaro. O marido deixou fugir o pássaro e por sua vez, a mulher matou o cão. O assunto teve que ser resolvido pelo soba da região.
UM MOVIMENTO DE INTERVENÇÃO
Na altura, o país passava por um momento conturbado (a luta pela independência nacional) que movimentava parte dos musseques de Luanda. E em bairros como o Rangel, Marçal, Sambizanga e Bairro Operário (BO) surgiram pequenos movimentos que faziam por preservar as músicas e tradições angolanas, marginalizadas pela dominação colonialista, na época.
Elias Diá Kimuezo fazia parte dos músicos nacionalistas que transmitiam esse tipo de mensagens na necessidade da conquista da independência. Pese embora as perseguições e represálias dos colonos.
Motivados pela luta da resistência, criaram um estilo musical, que de forma interventiva era passada em locais de reuniões e as músicas eram cantadas em línguas nacionais. A divulgação dos usos e costumes da linguagem e cultura angolana prevaleciam. Uma luta, sem armas nas mãos.
OS CONJUNTOS E O GRUPO GINÁSIO
A frequência da zona do Bungo, em Luanda, área dominada por operários do Porto e dos Caminhos-de-Ferro que tocavam e dançavam o Kinganje foi outro factor de influência na vida de Elias, quando aos 15 anos desperta para a vocação artística.
“Sempre que pudesse, aos fim de semana ia assistir o Kinganje que era as serenatas dos “sulanos”, na zona do Samba kimúngua”, explicou.
E integrou-se na Turma do Margoso, como vocalista principal e tocador de bate-bate. Neste grupo faziam parte entre outros os profissionais Tony Cubanga, Paizinho, André e o Capetróleo.
Três anos depois fundou Os Makezos e anos mais tarde, muda-se para o agrupamento Os Kizombas, onde na altura, tocava nas farras do Salão Malanjinho, no Sambizanga. Aos 22 anos, Elias Diá Kimuezo integra-se no Grupo Ginásio e junta-se a quem viria a ser importantes nomes do nacionalismo e da política angolana: José Eduardo dos Santos, guitarrista, compositor, Pedro de Castro Van-Dúnem (Loy), Brito Sozinho, Mário Santiago, Faísca e Buanga. Os ensaios eram feitos em casa do Mário Santiago.
Logo depois, Elias juntase aos Dikindus formação musical de operários da fábrica Textang I, onde entre outros canta com os colegas Caissara e Citróleo.
Mas o rei lembra-se de uma das actividades musicais do grupo, no Maxinde, sem o seu consentimento foi substituído pelo primo de um dos integrantes do grupo.
“Eles não permitiram que eu subisse ao palco”, disse.
Mas por ironia do destino encontravam-se no espectáculo Os Gingas um grupo formado pelo artistas Duia, Guinas e Calunga que o acompanharam em palco. Para espanto e alegria da plateia foi um sucesso.
Anos depois, mas por pouco tempo, funda e atribui o nome ao agrupamento Kissanguela tendo em conta o contexto nacional e o tipo de trabalho que pretendia produzir. Mas a sua permanência nesse grupo não foi por muito tempo.
Na altura, a divulgação das músicas era feita num ambiente muito restrito: no salão Tondela, Malanjinho, Ginásio, Bom Jesus no Marçal e outros.
Convidado a citar alguns músicos de referência daquela época apontou entre outros os profissionais Veríssimo da Costa, Victor da Própria Rússia, Jacob Pereira, Mário Bento e os Cinco de Luanda, os Gingas, os Kimbadas, Ases do Ritmos, Jovens do Prenda, os Kiezos, Fogo Negro e Henda Chala.
Por sua vez e em relação à nova geração, o rei apela a uma maior valorização das versões que têm sido feitas com alguma frequência de músicas em línguas nacionais, porquanto muitos retiram a originalidade da música.
PULO À INTERNACIONALIZAÇÃO
Em meados da década de 60, Elias Dia Kimuezo é então considerado “O Rei da Música Angolana” pelo Centro de Informação e Turismo de Angola (CITA), pela qualidade e a constância do seu desempenho na conservação da música nacional.
Em 1969 é convidado a participar no Festival Folclórico das Províncias Portuguesas, realizado em Santarém, Portugal, ficando em 2º lugar, num conjunto de 28 concorrentes. Fizeram parte da comitiva vários artistas e grupos angolanos como o Grupo de Rebita do Mestre Geraldo e Os Marimbeiros de Duque de Bragança oriundos da província de Malanje.
Ávido de sucesso, nessa altura, o artista grava um single, pela editora Valentim de Carvalho. E nele constavaM os sucessos “Ressurreição”, “Mualunga”, “Muenhu Ua Muto” e “Zum- Zum” com as participações de Barceló de Carvalho (Bonga), Rui Mingas, Teta Lando e dos Marimbeiros de Duque de Bragança.
Em Angola, o disco foi lançado no programa “Chá das seis”, no Cine Restauração com Tino Catela, Eduardo Nascimento, Milo de Vitoria Pereira e Vum-Vum.
O sucesso concedeu- -lhe o galardão de “Melhor Intérprete da Canção Angolana”. Prémio atribuído pelo Centro de Informação e Turismo de Angola (CITA), aos artistas que se destacavam em Angola.
Em 1972 é premiado entre os “11 mais da cidade de Luanda”, menção que premiava as onze figuras mais destacadas nas diversas áreas profissionais e sociais na cidade de Luanda.
Em 1983, o rei grava a sua segunda obra no projecto “Canto Livre de Angola” na República Federativa do Brasil com os brasileiros Martinho da Vila e Chico Buarque.
“Na companhia de cantores como a Dina Santos e o Semba Tropical fizemos uma digressão ao Brasil passando pelo Rio de Janeiro, Baía e São Paulo”, lembrou.
Depois da bonança, a tempestade
Como em qualquer outro país no jugo da colonização, a fase da luta pela independência é feita entre sofrimento, lutos e sacrifícios.
Dois anos depois de mencionado entre as onze personalidades de maior destaque em Luanda, Elias é preso na companhia de Chico Suíça, seu irmão mais novo e enviados para o campo de São Nicolau, actual cadeia do Bentiaba, a 110 quilómetros a nordeste da cidade do Namibe.
Os nacionalistas foram libertados numa altura em que o sistema colonial português foi obrigado a libertar todos os presos, por amnistia, principalmente os reclusos do foro político.
“Na mesma época aparece o corpo de um individuo de barba à beira-mar e é espalhada a fama de que eu havia sido morto”, explicou.
A notícia chegou a Luanda,e o Mendes de Carvalho dirigiu-se a São Nicolau, e não encontrou o cantor por que se encontrava hospitalizado em Moçamedês.
“Tempo depois, e posto em Portugal, chega a Luanda um outro boato de que eu estava arrependido por fazer parte daquele movimento e a notícia foi logo publicada no jornal Tribuna do Musseque”, lamentou.
De regresso a Luanda, o músico foi obrigado a apresentar-se constantemente à administração. E cada passo seu era monitorado.
Na altura o meu sobrenome era Lukala, mas os brancos obrigaram-nos a que o retirássemos por se tratar do nome de uma tribo
UMA HISTÓRIA DE VITÓRIA
Órfão desde os sete anos de idade, o pequeno Elias Lukala é obrigado a ir viver em casa da avó, no bairro do Sambizanga, local onde aprende fluentemente a sua língua materna, o kimbundo, pelo facto da anciã não saber falar português.
“Na altura o meu sobrenome era Lukala, mas os brancos obrigaram-nos a que o retirássemos por se tratar do nome de uma tribo”, explicou.
Segundo o rei após o falecimento da avó, com quem vivia, foi obrigado a vender farinha de mandioca para a sua sobrevivência. “Foi uma fase de muitos sobressaltos”.
Mas antes de enveredar pela música, o seu grande sonho era ser o campeão de atletismo. Pratica influenciado pelo primos. O rei chegou a participar em algumas competições mas por pouco tempo.
Nome: Elias José Francisco
Data de Nascimento: 2 de Janeiro de 1936
Natural: Luanda
Estado Civil: Casado
Esposa: Suzana Manuel Cadete Francisco
Filhos: 10
Netos: 35
Bisnetos: 5
Referência musical: Bana
Músico da nova geração: Yuri da Cunha
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