segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Dimensão cultural e desenvolvimento

 

O antropólogo Samuel Aço, avançou em Luanda, que a evolução cultural depende em grande medida das condições materiais, e em cada época corresponde a uma forma de expressão e de concretização de actos culturais. O académico que também coordena o Centro de Estudos no Deserto do Namibe, referiu, que ela resulta da situação material e do estado do desenvolvimento social.

Realçou que no contexto angolano, a expressão cultural resulta senão de cópia-por enquanto-do resultado de uma aculturação secular, pretendendo reflectir a evolução material do povo, que de independente se tornou submisso e completamente dependente para voltar a ser independente em novas condições.

O estudioso admitiu a necessidade de se recorrer de novo nossa realidade, sem chauvinismos e sem renunciarmos à nossa vocação universalista. Bebendo já dos resultados da I Conferência Mundial sobre Políticas CulturaisMundiacult, realizada em 1982, na cidade do México, este importante encontro abordou com detalhe a política a seguir na esfera cultural, assente em quatro pressupostos: Dimensão Cultural do Desenvolvimento, Diversidade Cultural: Base do Desenvolvimento da Cultura Nacional, Desenvolvimento Cultura e integração Regional e Africana, A Cultura Nacional, Parte integrante da Cultura Universal. Segundo adiantou, as propostas contidas nas conclusões e resoluções deste I Simpósio Sobre Cultura Nacional podem constituir ainda hoje um guia substantivo para a actividade cultural. Entre estas propostas figura a criação de uma Faculdade de Ciências Sociais, facto que se concretizou apenas em 2003, portanto, há 19 anos.

Contudo, a maior parte das propostas ali plasmadas não teve igual sorte e muito ainda está por realizar, passados que são mais de 25 anos.

Assim sendo, as políticas culturais equacionadas e discutidas em diversos fóruns voltadas para o desenvolvimento, formuladas correctamente e na sua maioria fazendo uma leitura pragmática da situação existente no país, nunca tiveram uma correspondência em termos de legislação aprovada e aplicada.

Realçou que, “Felizmente, a cultura dos povos não é um negócio de Estado, ao qual apenas cabe criar o aparato formal e algumas infraestruturas para a sua realização, de modo que a Cultura Nacional no seu todo e as Culturas Nacionais no seu detalhe continuaram a desenvolverse e vão recolhendo das múltiplas experiências que vivem, umas positivas e agradáveis, outras dolorosas e gramáticas, a substância para a sua transformação e robustecimento”. Segundo adiantou, é neste cruzamento de situações que foram abordadas no III Simpósio Sobre Cultura Nacional, realizado em 2006 e obteve do Presidente da República, José Eduardo dos Santos a observação segundo a qual: “O que importa não é rejeitar nenhuma das duas heranças de que idos nós somos depositários, a que vem dos nossos antepassados e nos é transmitida ao longo das várias gerações, e aquela, cada vez mais determinante, que nos chega dos nossos contemporâneos, das nossas próprias vivências actuais e do acesso ao conhecimento científico”.

No entender do académico, só deste modo poderemos conferir à nossa cultura a sua marca original, permitindo que se reforcem e consolidem os laços entre todas as populações que integram Angola e se criem vínculos de identificação e harmonização entre todas as culturas parcelares e seus representantes. Recordou que a cultura constitui uma dimensão fundamental do processo de desenvolvimento e contribui para reforçar a independência, soberania e identidade das nações. O seu crescimento tem sido geralmente concebido em termos quantitativos, sem se ter em conta a necessária dimensão qualitativa, a satisfação das aspirações espirituais e culturais.

Nesta perspectiva, o desenvolvimento autêntico para o bem-estar e a satisfação de cada um de nós. Segundo argumentou, é essencial humanizar o desenvolvimento, sendo o seu fim último a pessoa na sua dignidade individual e responsabilidade social.

Assim sendo, o desenvolvimento envolve a capacidade de cada indivíduo e cada povo para informar-se, aprender e comunicar as suas experiências.

Lei do Mecenato deve vigorar já

O encenador do grupo teatral “17 de Setembro”, João Kassule considera importante a entrada em vigor urgente da Lei de Mecenato, de formas a proporcionar mais desenvolvimento das actividades culturais.

Falando à propósito do Dia Nacional da Cultura, assinalar-se domingo, o responsável referiu ser importante que a sua entrada em vigor permitirá aos fazedores de cultura obterem mais apoio material e financeiro para desenvolver as suas actividades.

João Kassule aponta a Lei de Mecenato como um instrumento jurídico que permitirá as actividades como a música, teatro, cinema, artesanato, pintura e outras atingirem um alto padrão de qualidade, desenvolvimento e sustentabilidade. Referiu ainda que o documento permitirá aos empresários investirem neste sector com alguma firmeza, por beneficiarem de redução de alguns impostos e a obtenção de lucros.

O responsável explica que cultura tem levado o nome de Angola para todo mundo, por este motivo deve merecer atenção de todos para que atinja maior desenvolvimento.

A Lei do Mecenato é um instrumento jurídico que permite ao empresariado (ou pessoas singulares) realizar acções em prol da cultura sob condição de bonificação aduaneira.

O colectivo de artes “17 de Setembro” foi fundado em 2006, e conta com 30 elementos com idade compreendidas entre os 18 e 30 anos, tendo no seu repertório várias peças como “Coisa da nossa terra” “O dia do cão“, ”Sabadão“ e “Recordações de infância”.

 

Fonte: O País

0 comentários:

Enviar um comentário

 
;