Decorria o ano de 2000 e em Lisboa o jovem e compatriota angolano Esmeraldo de Jesus Diogo, dividido entre o sonho de antigo estudante de medicina, mas um adepto convicto da cultura de Angola e das suas tradições, abraçava uma nova carreira.
Entre avanços e recuos, entre esperanças e desesperanças, mas com Angola pelo caminho, Esmeraldo de Jesus Diogo (Aldo Milá) ia cimentando o sonho de abraçar a música, como opção de vida e de criação.
A 7 de Janeiro de 1993, Aldo Milá, aterra em Lisboa e na bagagem dos sonhos trazia vários projectos, entre os quais, a continuidade do percurso, que em Luanda e no seio da família e entre amigos tinha desenhado face à cultura do seu país.Nesta trajectória de vida e a música debaixo do braço, Aldo Milá edita o primeiro trabalho discográfico em finais de 1999. O título do primeiro CD não podia ser mais emblemático: " Mulemba ".
Mulemba é uma árvore de Angola a cujo nome o músico e compositor angolano Aldo Milá quis associar o seu primeiro trabalho.
Acompanhado de vários músicos angolanos, como Zé Mueleputo, Galeano Neto, Samu Wango, Kali Vitamina, a brilhante voz de Tê Macedo, Inês Moreno, Quim M' Jonjo, entre outros. A editora foi o " Cantinho da Música ", produtora discográfica que em Portugal, abria as portas ao angolano Aldo Milá.
Em entrevista ao Angola Digital, Aldo Milá, referiu que o " trabalho e o título " Mulemba ", constituía " uma abordagem de natureza sociopolítica, que à sombra de uma Mulemba, constituem a melhor forma de pôr as pessoas a conversar. Tinha como sentido fundamental, ser um ponto de encontro de vários temas".
Face as dificuldades para produzir o " Mulemba ", Aldo Milá, refere que " os apoios eram escassos ou nenhuns. Mas também houve a solidariedade dos músicos, que se prontificaram a dar o brilho a um sonho que eu há muito alimentava ". As incertezas de um projecto não afectaram a produção de um primeiro trabalho e Aldo Milá, partia para outros projectos e já no seguimento da gravação de um segundo CD, o " Keta! Keta", estava em formação.
No "Mulemba", Aldo Milá homenageia vários compatriotas, amigos, familiares e Angola e o primeiro trabalho, na opinião de Aldo Milá, o " Mulemba não era apenas um trabalho individual. Era a confluência de várias coisas. O sonho de um Angola diferente, una entre si e o desejo dos que comigo choraram, cantaram e trilharam vários momentos comigo ". Mas nesta viagem por Angola, Aldo Milá acrescenta que " Mulemba " traduziu também " o sonho de uma Angola livre e em paz."
Em relação à música de Angola, Aldo Milá, tem várias preocupações.
A primeira, a harmonização do homem angolano e consequentemente a preservação da cultura. Para o músico Aldo Milá, a "a música é consequência. Para isso é também necessário que se dialogue e se preserve o património cultural, como ponte de diálogo entre várias culturas e gerações".
Em relação aos diferentes géneros musicais em Angola, como o Semba ou a Rebita, Aldo Milá abre o véu de uma preocupação, referindo que "uma coisa é o artista, outras coisa são as instituições que devem incentivar os artistas, os criadores e todos os intervenientes culturais, neste processo de preservação, ora estimulando com prémios, ora apoiando as suas iniciativas".
Porém, nesta volta à música de Angola, Aldo Milá tem outras preocupações. As que decorrem de uma cultura aberta e de permanente diálogo com a construção de um processo cultural sistemático e dinâmico. Mas neste encontro com Aldo Milá, tendo Lisboa como pano de fundo e a memória de Angola, Aldo Milá recordou os seus tempos de estudante de Medicina e o estudo da Electrotecnia, mas também as dificuldades que encontrou para prosseguir os seus estudos, que o obrigaram a trabalhar noutros sectores para a sua sobrevivência.
Em relação à paixão pela música e questionado sobre isso, "a mesma nasceu no embrião. Aliás do próprio berço. Desde criança que estive envolvido com brinquedos musicais", cujos familiares transmitiam essa herança, não conseguindo, na sua opinião, " explicar esse fenómeno ". Mas as paixões de Aldo Milá, no plano geracional, não se esgotam aqui.
Aldo Milá divide as suas paixões de diferentes formas, definindo-as como geracionais e a cada uma dando um nome. A primeira, refere o autor, "é a do crescimento. As paixões foram sempre acrescidas, pois uma não elimina a outra. Aliás, é um comboio de muitas paixões".
E quando questionado de novo sobre as paixões que podiam morar no comboio, Aldo Milá esclarece em tom sorridente e forte, que "as mesmas vão de Lisboa até Malange, de Luanda ao Mundo".
E neste encontro com o Mundo, o músico e compositor angolano Aldo Milá, diz que a sua premissa com o Mundo, "começa com a revolução interior no indivíduo numa relação de grande humanismo e de grande universalidade".
Mas o autor de "Keta!Keta", o título do trabalho que justificou e de forma oportuna e merecida esta entrevista para o Angola Digital, diz que face ao olhar sobre o Mundo, "os homens devem dialogar de forma aberta. Isso é que faz a cultura mundial da paz". Mas voltando ao título do novo trabalho, intitulado "Keta!Keta", Aldo Milá refere que a razão de ser deste título, "é também um chamamento. Que venha a música contribuir para o cultivo da nossa paz interior".
Aliás, no encarte do CD "Keta!Keta", cuja capa é um sorriso, de um quadro da autoria de Bernard Jaquet (pintor suíço seu amigo e já falecido), Aldo Milá apela à alegria, como forma de sorrir para as tristezas, mas também para as próprias alegrias, que o nosso quotidiano comporta em diferentes momentos das nossas vidas.
A justificar esta minha anterior afirmação, basta também olhar para o texto que abre a porta para a audição deste trabalho musical angolano e ler em "Gente Minha!" (título dado por Aldo Milá), que "ninguém consegue isolar-se dos imperativos rítmicos da época e do meio onde nasceu, nem dos vários ambientes que vai assimilando no seu processo de maturação de aculturação". Neste trabalho, o músico refere na introdução que "Keta!Keta", "apresenta um menu sonoro com estilos e temas de vários quadrantes. ? um grito livre. Um grito Afro-Luso-Latino-Americano ".
Assim descubra esta "Keta!Keta", baile onde quer que se encontre em Angola ou no Mundo. Em 12 temas musicais, que vão desde "Mukuaxi", "Kalumba", "O Beco das 11 Curvas" ou "Cachaça d'Angola", passando pelo "Ritual de Muamba", ou "Aiwa" (palavra japonesa que significa harmonia e amor), até "Canção para Minga" (título de poema da autoria de Azzevas), variando, caso queira, em "Perfumes", "Katorzinha Atrevida", "Colado em Ti" e "Viagens".
Uma grande viagem musical que termina aqui, nesta ponte com Angola e o Mundo. Um reencontro que aconteceu num triste entardecer de um Inverno lisboeta, mas com o sabor, a alegria, a força e o ritmo que marca a música de Angola. Um país que chama por si, nesta variante musical, ao lado de uma " Keta!Keta".
Fonte: Angola Digital com Aldo Milá
0 comentários:
Enviar um comentário